APRESENTAÇÃO
O convite para realizar a I Copa de Poesia Portugal surgiu após uma equipa portuguesa, liderada por mim, ter ganho a II Copa de Poesia Brasil, com o primeiro e segundo lugar.
Não é fácil organizar um evento desta magnitude online, nem tão pouco conciliar fusos horários, mas o empenho de todos os envolvidos comove-me.
Esta copa, assim como as outras já realizadas pela Cronopolis, tem como objectivo aproximar as pessoas da literatura, bem como aproximá-las umas às outras, com o propósito de se conhecerem, conectarem e de se interajudarem. Temos poetas de várias nacionalidades em diferentes partes do mundo, Angola, Moçambique, Filadélfia, Brasil, Russia e Portugal. Como é bonita e expansiva a língua portuguesa, já pensaram? E que maravilhoso é conseguir contar com tudo isto numa Copa como esta.
Mais do que uma competição, este espaço é, sem dúvida, uma rampa de divulgação e visibilidade dos trabalhos dos poetas. Por isso, aproveitem, desfrutem e absorvam a poesia que vai chover nos próximos 2 domingos.
Aproveito para desejar boa sorte a todos e agradecer à organização da Cronopolis e à Valletibooks todo o apoio dispensado.
LÍDERES
EQUIPES
LÍDER
LÍDER
PATRONO
CORA CORALINA
VANESSA
BARRETO
MANISVALDO
JORGE
MARCOS ANDRÉ
MÁRCIA
NEVES
MARCELO
GIRARD
POETAS
Júlio Lourenço, nascido em 6.6.1962 em Lisboa.
Formação em Gestão Imobiliária.
Gosto pela Literatura Portuguesa, que estudei no Liceu, em especial Poesia.
Gosto por Luís Camões, Cesário Verde e outros.
Voluntário na ONG Remar desde junho 2014 e em Espanha desde dezembro 2015.
JÚLIO
LOURENÇO
@juliolusitano
1 - Tu Mesmo
O que te levou naquele dia para te encontrares contigo mesmo?
Subitamente puseste-te a caminho sabendo exatamente onde querias ir.
Até que claramente sentiste-te presente e encontraste o que há tanto tempo buscavas no teu interior.
Era só parte de mim mesmo que era preciso completar.
Como dar conhecimento disto a quem quero, a quem vive comigo, a quem necessita de se encontrar consigo mesmo?
2
Certo dia
Andando no mundo
Desorientado, sem amor,
Desanimado agarrei em "mim mesmo" e fui até ao campo e passei num jardim...
Este jardim estava lindo,
Com muitas flores,
Das mais diversas cores
E feitios...
Reparei numa que se
Explanava radiante,
Muito simples,
Simplesmente linda,
Linda demais...
Aproximei-me,
Cheguei perto dela,
Ao "ouvido" e perguntei-lhe: como te chamas, flor?
Disse-me: Margarida
3 - A Porta
Subitamente a Porta abriu-se
para nela entrar,
encontrava-se sempre a Porta ali,
mas não ousava por ela passar.
Por onde caminhava, nenhuma porta havia,
até encontrar Aquela pela qual só o amor permite entrar.
4 - Tuas mãos
Por tuas mãos
fazes rodar a matéria-prima para a moldar.
Dessa vontade de criar,
fazes com cuidado em ti a Água entrar.
LUÍS
AGUIAR
Luís Aguiar nasceu em Oliveira de Azeméis em 1979. É Mestre em Línguas e Relações Empresariais pela Universidade de Aveiro, é, também, gestor numa empresa de e-commerce.
A sua educação artística estende-se em vários domínios, estudou música clássica, guitarra portuguesa e fotografia. Dedica-se à poesia há mais de 20 anos, tem 10 livros de poesia publicados e vários poemas dispersos por antologias e revistas literárias. Foi galardoado, desde 1999, em dezenas de prémios literários.
@luis.aguiar.pereira
Recordas-te, meu amor, daquele tempo
em que bebíamos chá na sala branca da escola,
enquanto lá fora chovia, e os frutos eram magros,
e a paixão ardia no sangue,
e nós não compreendíamos o tremor nos olhos,
como se o mesmo fosse um vento adolescente
a chegar aos lábios?
Recordas-te do livro que me ofereceste,
de um poeta grande, que eu desconhecia por ser
tão grande quanto as nuvens,
e as palavras não tinham idade e éramos tão novos,
como os pássaros que aprendiam a voar
nas rugas finas do céu?
Recordas-te, meu amor, das crianças imemoriais
a correrem pelos pátios sem fim?
Já passaram tantos anos, éramos aves,
agora somos ventos em redor das árvores.
Juramos ficar para sempre juntos,
mas a eternidade é demasiado breve
para quem ainda tem recados na memória
e nuvens brancas, orvalhadas nos olhos.
Percorremos as mesmas estradas,
que se tornaram caminhos secundários,
e que nos levam a pomares com laranjeiras secas,
e com sede dos tempos em que a viagem
era uma promessa entre a minha mão
e a carta envelhecida, rubricada com o teu nome.
Tirei-o do bolso, do sobretudo preto
que servia de casa quando te apertava contra mim,
no parque da cidade que era só nosso.
Tirei-o do bolso, permaneceu por lá inúmeros anos,
esquecido, como o tempo que passa
e que vai deixando eternos sussurros e frio.
Tirei-o do bolso, um pequeno papel amarrotado,
com uma frase tua, escrita a lápis,
e que arde na memória como se a tua boca me falasse:
– Que lágrimas são estas, tão alheias a mim,
que me saltaram da vida para os olhos?
O teu perfume manchou o meu rosto,
nada me pertence, nem esta carne agora mirrada.
Deste-me o teu vestido
(como gostaria de o devolver),
talvez agora já não te sirva. Por onde andas?
O que fazes neste presente em que os pássaros
caminham na terra e os rios desaguam no céu?
A minha vida é mais branca do que a morte,
mas adormecias num fulgor, na extenuada chama.
Cruzavas os braços para que o coração
não saísse do peito, emagrecias em cada tratamento.
A pele ficava branca, depois amarela,
o sangue desvanecido, exangue, pálido, branco,
levava-te de mim para um barco
que eu não sabia remar. Partiste sem que eu
o soubesse, deixaste as saias e a lingerie,
mas decidiste levar-me os poemas todos.
As palavras custam-me na rebentação das ondas.
Ninguém virá recordar-me a pulsação
da maresia, do naufrágio dos barcos,
do amanhã em que acordo e o pão está morno,
em cima da mesa,
acompanhado por um café frio e amargo.
O meu nome é Susana Moreira, tenho 40 anos, nasci em Castelo de Paiva, mas vivo em Lamego há 16 anos. Sou licenciada em Inglês e Alemão e estou a terminar a licenciatura em Psicologia, uma paixão que tenho desde adolescente. Sempre adorei poesia e desde os meus 15 anos que escrevo, no entanto, o meu gosto pela escrita esteve adormecido (ou escondido) durante muitos anos. Escrevo ininterruptamente desde 2019, como forma de expressar os meus sentimentos, as minhas emoções e a minha perceção do mundo.
SUSANA MOREIRA
@susanamoreira_7
Dá-me um abraço
Dá-me um abraço
Daqueles que só tu sabes dar
Em que caibam todas as palavras
Que foste incapaz de verbalizar.
Dá-me um abraço
Que me mantenha de pé,
Daqueles que me ampara
Quando tudo o que me resta é a fé.
Dá-me um abraço
Calmante e apaziguador
Que me toque a alma
E diminua a minha dor.
Dá-me um abraço
Que me sirva de incentivo,
Me leve a tomar decisões
E me lembre que eu estou vivo!
Dá-me um abraço
Com cuidado e com carinho,
Porque hoje tudo o que preciso
É de chorar bem baixinho.
Dá-me um abraço,
Um abraço de felicidade...
No calor do teu abraço
Descobri a minha humanidade.
Vida que passa
Nascemos, morremos...
pelo meio vivemos.
Há quem tenha uma vida longa
sem nunca ter vivido a vida,
Há quem parta precocemente
e tenha fruído cada segundo até à despedida.
Na ânsia de procurar mais e mais
há quem se perca no prelúdio da existência
sem perceber os instantes finais…
Sábios são aqueles que se ocupam a viver,
que não têm um só instante a perder.
Mergulham no amor, na alegria, no afeto,
desfrutam da amizade como prazer predileto.
Cultivam a família, o seu jardim perfumado,
fazem do trabalho um aprender e ensinar sempre renovado.
Quando, por fim, se ausentam, nunca deixam de cá estar:
perpetuam-se no coração dos que tocaram
que nunca deixará de os amar.
Poesia
Expressas sentimentos
Que de outra forma não teriam voz.
És a companhia de muitos
Quando estão tristes e sós.
Tornas o mundo mais belo
Com a tua melodia,
Que soa sempre bem
Quer fales de tristeza ou de alegria.
Ajudas os apaixonados
A expressar o seu amor
E aqueles que sofrem
A dissipar a sua dor.
Evocas a natureza,
As estrelas e o mar.
Em ti nunca faltam palavras
Para o infinito alcançar!
Tens em Luís de Camões
Um génio inigualável
Que deixou a todos nós
A sua marca imutável.
És poesia, pois então!
A tua beleza é eterna.
Curvo-me perante ti,
Minha confidente fraterna!
Gente
Há gente que nos vira do avesso
Sem sequer nos tocar,
Gente que não tem preço
Porque o caráter não se pode comprar.
Gente cuja história de vida é uma lição,
Gente que na sua humildade
Nos toca profundamente o coração.
Gente que nos cativa com o seu modo de ser,
Que nos impele a ser melhores
Através do seu viver.
Gente que não tem receio
De mostrar os seus sentimentos,
De chorar as suas lágrimas
E partilhar os seus tormentos.
Gente que nos inspira
Com a sua força de vontade,
Gente que nos faz agradecer
Por ainda haver no mundo gente de verdade.
Gente que entra na nossa vida
Por coincidência ou conspiração
Gente que nos vem ensinar
Que a melhor bússola é o coração.
Chamo-me Ana Paula Sampaio Pereira, nasci em Guimarães, tenho 31 anos e sou Assistente Social.
Desde os meus 16 anos que escrevo poesia. Foi o meu professor de português que na altura
descobriu o meu talento. Tenho um livro publicado pela Chiado Editora, com o nome: "O mundo visto aos meus olhos" e gostava de publicar muitos mais.
Fiquei muito feliz pelo convite que a Cidália me fez para participar nesta copa. Viva a poesia.
ANA PAULA PEREIRA
@paulinha.s.pereira
Sou poeta!
Eu não sou poetisa!
Sou poeta.
Poetisa é diminuir,
O que o poder das palavras engrandece.
Sou poeta com tom grave,
E não poetisa de tom agudo.
Apesar de feminino,
Prefiro poeta, como no masculino.
Podes achar ridícula esta negação.
Mas eu sou poeta!
Porque transpiro poesia.
Vivo em comunhão com ela!
Digo-te que sou poeta!
Sou a alma do sentimento,
Sou a prova que a caneta tem cor.
Sou o coração aberto no papel.
Em mim respiro poesia,
Alimento-me de inspiração,
Sinto-me por inteira.
E vivo poeta!
Parem de cretinice!
Por favor parem!
Parem de fingir que se importam!
Parem de fazer dos outros coitadinhos!
Parem com a vossa ignorância sobre o outro!
Parem de fazer cimeiras internacionais,
Fingindo que, afinal analisam os problemas!
Parem de criar objetivos inatingíveis!
Parem de viver à sombra duma solidariedade forçada pela boa ação!
Parem com toda esta cretinice!
Parem de jogar ao faz de conta!
Faz de conta que sabemos das reais necessidades,
Do faz de conta que me importo,
Do faz de conta que até faço alguma coisa,
Do faz de conta porque é bonito!
Parem e consciencializem-se!
Estamos num mundo tão evoluído, tão cheio de inteligência artificial...
Mas...
Vejam o racismo ainda muito presente,
Reparem na pobreza extrema que afeta muitas nações,
Olhem para o sofrimento dos povos,
E as guerras? Qual a solução?
Meu deus...
E a emigração ilegal?
E o declínio diário do planeta... alguém vê?
Digam-me lá meus senhores e senhoras,
Qual o milagre para isto tudo?
Nunca desistas!
Por mais árduo que seja o percurso,
Caminha!
Caminha, com os pés bem assentes na terra.
Com a leveza na bagagem da alma,
E com o coração fortalecido!
Não esperes ajuda!
Não olhes para trás! Podes perder-te...
Sê firme!
Acredita na tua força, pois consegues mover montanhas com ela!
Não é nos fracassos que se veem os fortes,
É na persistência, é na luta diária.
É nas pequenas coisas, que se conhece grandes feitos.
Nunca baixes os braços,
Nunca deixes que te tentem baixá-los por ti!
Só tu conheces a tua garra,
O teu poder interior...
A tua maneira de dar uma reviravolta.
Só tu sabes o turbilhão que és,
E o furacão que levantas, para conseguires o que queres.
Só tu te conheces como ninguém...
Por isso...
Nunca desistas de nada!
Nem sequer equaciones essa hipótese!
Nunca desistas de nada!
De nada, mas de tudo o que seja o melhor para ti...
No dia do meu velório...
No dia do meu velório,
Não quero um manto de flores.
Não quero visitas de povo notório.
Não quero choro, nem dissabores.
Não quero vestimentas escuras!
Não quero cânticos de tristeza,
Nem pessoas a chorar nas ruas,
Nem visitantes com frieza.
Quero música agradável,
Quero pessoas com alegria,
Quero um ambiente confortável
E muita, muita poesia.
O meu nome é Tiago Roque, tenho 22 anos e vivo em Mafra. Sou jurista, licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e atualmente mestrando em Direito Forense na Universidade Católica Portuguesa. Recentemente, publiquei o meu primeiro livro poético. “O Desancorado” A par do direito, sou completamente apaixonado pela arte da poesia, do fascínio que lhe é inerente, da maneira benévola com que nos permite ver o mundo.
TIAGO
ROQUE
@tiagosroque_8
Os meus olhos são verdes.
Sim, ai de quem diga o contrário
São verdes, cor da esperança e cor da vida …
Deus sabe bem porque me deu olhos verdes!
Deu-me a alma mais triste de todas
E, para conseguir sê-la na sua plenitude,
Na plenitude da sua tristeza,
Deu-me também olhos claros, olhos verdes,
Para ser lúcido e ver a realidade:
A realidade nua e crua, tal e qual como ela é.
E, quando me sentisse a desesperar
De ser tão triste e tão lúcido,
Me pudesse consolar no verde que há nos meus olhos
No verde que me anima para o futuro
E para as alegrias que a vida talvez ainda me possa dar.
Os meus olhos não são castanhos.
Seria mais banal, mais triste e mais perdido do que sou …
Sendo verdes, sempre posso dizer que são verdes
E sorrir!
Os meus olhos verdes são os meus guias.
Os meus guias de procura neste mundo tão vasto
Mas, sobretudo, os meus guias de luz para dentro de mim próprio
Como dois faróis que alumiam a minha tristeza
E me clarificam a escuridão da minha vida.
Nos meus olhos, vejo o mundo
Nos meus olhos, tenho o meu mundo
Em reflexos e em pedaços do mundo que me rodeia
E alimento-me do seu verde nos momentos mais tristes.
Se fossem castanhos, eu não seria eu
E não tinha a esperança dentro de mim.
Por isso, digo! E digo, com orgulho:
Os meus olhos são verdes.
Apaga as luzes!
Fecha os olhos!
Sente a escuridão!
Hoje, chove lá fora
Hoje, o mundo parou!
Parou para eu o ver,
Parou para eu o sentir, de olhos fechados,
Como nunca tinha sentido antes.
É muito mais bonito do que eu pensava!
Ah, se eu o soubesse viver …
Até agora, não soube, é verdade
Mas talvez amanhã saiba
Ou depois de amanhã, ou depois, ou depois, ou depois
Mas, e se nunca souber?
Sim, e se nunca souber viver o mundo?
Nunca ninguém me ensinou
Nunca ninguém me ensinou como é que se vive o mundo
Nunca me disseram como se ama
Nunca me disseram o que é amar
É suposto eu já saber? Não sei
Mas eu tento! E tento, e tento, e tento,
E tento todos os dias …
Acordo, levanto-me,
Saio para a rua, sorrio,
Caminho, beijo, respiro
E, tudo isto para mim, é viver!
Mil vidas não chegam para viver
Mil vidas não chegam para amar
Mil vidas não chegam para saber amar
Mil vidas eu teria para decifrar o amor
E, em mil vidas, eu sei que não o conseguiria fazer.
Á parte disto, mil vidas já valeram a pena
Para ver o céu azul e o azul do mar.
O destino é triste
É tão pobre e tão vazio
Não tem vida nele próprio
É moribundo e sem sentido
O meu destino?
Ah, pobre destino o meu
Pobre destino aquele que eu tenho
Se é que o tenho ou alguma vez tive
O meu destino é pobre e é triste
Que se cansa de ser destino
E, sobretudo, de ser o meu
De ser o meu destino.
É tão banal, e por isso, tão ridículo
Que as coisas que dão valor ao destino
São tão ridículas como as palavras que escrevo.
Vivo à procura do meu destino
Aliás como todos os outros ridículos
Porém, julgo que o meu destino
É nem ter destino nenhum
E viver tão ridículo como vivi até agora.
O tempo passa, urge, finda
As memórias desaparecem a cada dia que passa
As lembranças dissipam-se no ápice da idade
Sou um farrapo, estou velho, faltam-me forças
Da juventude não restam senão páginas em branco por escrever
O tempo que passou, a força do meu destino apagou.
Sinto tão presente o tempo que passa
Do passado, choro um vazio por preencher
Vivo o presente como se fosse o fim
Com a loucura da juventude e ânsia do infinito
A força que tenho para continuar é pouca
Mas eleva o meu espírito e irradia-o de luz.
A juventude antiga já passou, não a recordo
Desapareceu da memória, é vaga, é indecifrável
Agora vivo a nova juventude
Com a força inerente ao vigor da vida
E com a inocência dos sábios ignorantes
Amo a vida a caminhar para a morte.
Sacio-me da loucura da nova juventude
Usufruo-a na plenitude e delicio-me nos seus prazeres
Descanso na sabedoria desta nova vida
Respiro o ar tranquilo e sereno da inteligência
Espelho uma alma repleta de alegria
É felicidade, é vida!
Cátia, de Sintra e os seus textos são muito de conexão interior, de felicidade interior, de pureza e de partilha, alguns escritos em poesia e prosa.
Autora do blog Escrita d'Alma: https://catiasantos.pt/
Escrevo ao fluir da minha alma.
Escrever a vida
Escrever a vida
É escrever a minha alma.
Escrever a vida
É abrir o meu coração,
as profundezas do meu ser.
Escrever a vida
É evoluir em cada letra e em cada palavra.
Escrever a vida
É renascer diariamente ao vosso lado.
Escrever a vida
é viver de coração cheio de gratidão e de amor.
Escrever a vida
É escrever a minha essência num pedaço de papel
E partilhá-la com o Universo.
Toda a escrita é a nossa pureza.
Toda a arte é a nossa essência.
De mãos dadas com a criatividade,
Vamos dando forma ao fluir da vida.
De mãos dadas com o coração,
Vamos pintando o nosso caminho
Com as cores do nosso ser.
De mãos dadas com o medo
Vamos desbravando caminhos,
Vamos superando o que tememos
E encontrando a alegria da nossa alma.
Sê bravo!
Sê criativo!
E vive de mãos dadas com o medo.
Mas, lembra-te que és mais poderoso do que o medo e que ele é só um mero
espetador que te tenta deter de encontrares a tua verdadeira alegria interior.
Alegria de viver
Alegria de viver
Submersa em cada momento,
em cada pedaço de vida.
Alegria de viver
O silêncio
na descida ao meu eu interior.
Alegria de viver
cada sorriso partilhado.
Alegria de viver
cada abraço que acolhe o meu coração.
Alegria que rejubila a minha alma.
Alegria de viver tudo e todos.
Alegria de viver
a minha criança interior ao máximo.
Alegria de viver
que coloca um sorriso nos meus lábios,
um brilho nos meus olhos e enche de gratidão o meu coração.
Alegria de viver cada minuto
seja em silêncio interior,
seja em brincadeiras de criança,
Seja em união com a família,
seja o momento que for,
é aquele que preenche todo o meu ser e permite descobrir a minha felicidade
interior.
O tempo vai passando
O tempo passa e vai-me marcando
com gratidão e com a tua ausência
perdida entre palavras e entre distâncias.
O tempo vai passando
E com ele o amor de uma vida
Alegre e feliz.
O tempo vai passando
E ensina-me que na tua ausência
Sou eu que me encontro ainda mais
Com a natureza.
O tempo vai passando
Deixando momentos de pura alegria,
Felicidade e amor
Gravados para sempre no meu coração.
O tempo vai passando
Ensinado a fluir na maré da vida
Na maré da multidão,
Na maré do Universo.
O tempo vai passando
Ensinando que tudo passa
E tudo é efémero.
Mas, só o nosso amor resiste à incerteza
De um tempo de pandemia.
Uma amor capaz de tudo curar e por tudo lutar.
O nosso amor, a nossa cumplicidade, o nosso companheirismo…
O nosso até sempre!
Mar
Mar,
No teu manto de luz
No teu manto de amor
No teu manto de pureza
Envolves o meu ser
Envolves a minha alma
E dás alento ao meu coração.
Mar,
No teu manto
Tudo se dissolve
Tudo se resolve
Só a imensidão do momento fica.
Mar,
No teu manto
Envoltos em amor
Nós perdemos do mundo
Nós esquecemos do amanhã
E, simplesmente, estamos aqui e agora.
BEATRIZ
SANTOS
Chamo-me Beatriz Santos. A minha vida baseia-se nos estudos mas tem foco também nas letras, isto é, procuro vir a ter um livro publicado. Escrevo mais romances do que poemas até porque acho que os meus ficam repetitivos. Porém, já os escrevo há quase quatro anos, tendo feito alguns longos intervalos de tempo.
@biiabfsantos
Flores
Há flores a voarem por alto mar,
Flores perdidas do meu pensamento
Voaram do casamento que seria
O laço do meu sentimento
Voassem elas todos os dias
Abraçaria o perdão e manifestaria o amor
O mar, lá de longe, vê como reagias
E no meu abraço, sente o sabor
Salgado da maresia
Tão pura e tão leve
Mas tão selvagem de fogaz
O vento leva as flores para ele
E deixa os amores para trás.
Já não há guerra sem flores
Nem felicidade sem lágrimas
Há a paz e o amor
Que fogem por entre os dedos
Que viram as páginas
As páginas do meu livro
Têm marcas dessas flores
Marcas vivas, que sobreviveram aos anos
E que esqueceram o inimigo
Daqui, o mar é eterno, tal como o amor
Amor eterno que ainda existe
Sob este luar que agora surge
O casamento acalmou
E o meu sentimento urge
Urge ele de tanto que tem para dar
Já não sei escondê-lo
Já nem sei como se pode esconder
Algo tão natural, como poderei dizê-lo?
As palavras não bastam
Para esta poesia
As flores separam-se com a corrente
E levam cada uma a sua palavra
A que a si se agarrara.
A alma, o amor, a paz
Vão com elas
Porque o mundo está do avesso
E elas choram…
E os três não têm preço.
As palavras embrulham
As flores que mais adoram
O mar continua pesado
Mas leve em levá-las
E os sentimentos agarram-se e perduram.
Às minhas avós
Às minhas avós.
Dedico o tempo que me dedicaram.
De uma relação conturbada
Tive outra mais leve
Sentia-me amada
Como um girassol no campo
Que cresce pela luz,
De tão longo, se transforma
Em algo bonito.
A elas, devo parte da minha vida
Ainda curta de jovem
E longa de responsabilidades
Enchiam-me de alegria
Vi-me perdida
No vosso desaparecer
É tão complicado de sentir
De dizer, de continuar a caminhada
Quando o gosto e o sabor igualam a nada
A minha garganta doeu bastante
Ficará na memória a despedida
A partida, que eu não queria que fosse
O último adeus, tão escasso
Tão deixado no tempo
Aquele tão apertado abraço
Que me davam ao amanhecer
Ou até ao anoitecer
Fosse dia ou fosse noite
Estavam ali, para mim
Por todos nós.
Avós, deviam ser para sempre
Não há caminho para regressar
E não há caminho que nos faça
Avançar sem a saudade
Sempre na mente.
Feliz é aquele que vive como se nada fosse
E infeliz é aquele que fica no passado,
Agarrado a ele com tudo o que tem
E esquece-se do que lhe falta
Desafia o que aí vem e dorme para não pensar.
Muito tinha para lhes contar
Mas nem tudo cabe neste poema
Esse será sempre o meu dilema
Devido ao sentimento de amar.
Fui feliz entre elas
E nem percebia o quanto o era
Coisas de outra era
Coisas que ficam guardadas na minha estante amarela.
De Leiria à Serra
Leiria, cidade tão calma e tão bonita
Aos olhos de quem a vê
Terra de estudantes de toda a nação
Das tunas e das noitadas
Das bebedeiras e das gargalhadas
Serra, terra rural que oferece o sossego
A companhia animal,
O queijo delicioso, o abraço caseiro
Onde se viaja e se perde sem medos
A volta à serra, onde existem milhares de rochedos
Perdidos uns com os outros,
Parecendo cordeiros.
De uma cidade a uma serra,
Milhões de coisas acontecem,
Milhares de pessoas vivem,
Centenas de aldeias povoam
Dezenas de comidas apetecem.
O caminho segue longo e o cansaço aperta
Pouco menos do que a saudade que cresce na distância
Pouco menos ainda, o estudante pensa em desistir
E muito se vive pelo futuro, pela hora certa.
Os estudos são um quebra-cabeças
Mas nada que faça pôr uma pausa
Leiria puxa-te para o Académico ou para a Merendeira (da Sé)
E a serra puxa-te para a Lagoa ou para o Vale
São quilómetros e quilómetros
Como sinónimos da melhor parte da tua vida.
São distintos os lugares,
De um ao outro, não há escolha
Onde não há tunas e noitadas
Há serões de rancho e vinho do porto
Onde não há estudantes
A tirar cursos superiores
Há estudantes a prepararem-se para eles
E a correm à neve quando ela cai
Retiram os trenós das suas tralhas
E querem lá saber do frio!
Pôr-do-sol
Bonito num pôr-do-sol
Com um copo de vinho a condizer
Nos teus braços, aprendi a viver
Contigo, soube renascer
Não me ensinaste da melhor maneira
Tenho a dizer,
Mas serviu para saber viver e para largar a bandeira do teu amor
Agora, eu sou livre
Sinto-me livre
O ar fresco pode percorrer-me
Posso mudar-me para uma praia nudista
(Não, mentira!) Posso olhar o horizonte e sorrir
Neste mundo difícil e racista.
O sol assim se vai para uma noite vir
Mais descanso, mais paz
“Mais amor, por favor”
Tudo o que se deseja no Natal e na Páscoa. Tudo por uma questão de sorrir.
Tudo pelo encontro familiar
Tudo se baseia na sociedade
Mas esta não se baseia, não dá atenção
Ao pôr-do-sol, ao nascer dele, não o contempla
Não o agradece
Apenas tira fotos aqui e ali
Apenas o vê de longe.
Apenas o tenta ter nas mãos.
Mas o por do sol não se deixa agarrar
Porque sabe que tem de viajar
Como gira a Terra a toda a hora
Como circula o ser humano a qualquer hora.
Ao teu lado, ele era mais risonho
Desfazia todo o enfadonho do dia-a-dia
Fazia-me o dia sobreviver
O por do sol, o teu amor, o copo do vinho.
Socorro, agora tenho de ir!
Esta história ficou escrita
Ainda a sinto, bastante.
Mas já é tarde, e a vida não pode seguir sem mim,
Não posso pôr pausa à fita.
Não posso parar agora,
O caminho é longo
Mas vou a meio
E enquanto a paisagem passa por mim, eu leio.
Sei o que leio, leio poesia
A poesia que eu lia para ti
Que emergia em nós
Uma devoção imensa à literatura
Um gosto que nos ligou à amargura.
LISA LYNN
ERICSON
Lisa Lynn Ericson nasceu em Lisboa, sede da sua alma fadista. É autora de livros de não-ficção e de poesia, incluindo "Simplicidade Vibrante: Pensamentos Poéticos de um Fado Feliz" (2021). O seu anseio fundamental é espalhar esperança sem fim, ponderando a saudade de uma forma singular.
Website: LisaLynnEricson.com
@lisalynnericson
FADO DO MEDO
Como se chama tal sensação,
Que me invade com tanta pressão,
Chupando leveza,
Com tanta destreza,
E paralisando a minha ação?
Ó medo, não foste designado
A dar o teu nome ao meu fado.
Esmagas esperança,
Com desconfiança,
Instalas-te sempre ao meu lado.
Deixei-te ficar, eu confesso,
E me encostei, reconheço,
E isto admito,
Mas já não permito,
E digo-te que te despeço.
Meu fado é outro mais lindo,
Seus tons de amor vou ouvindo.
Estou acompanhada,
E bem apoiada,
E este fulgor vou sentindo.
FADO VIAJANTE
Se sou fatalista?
Não sei,
Mas canto o fado,
Pois sim.
Se por ser fadista
Errei,
Deus livre o pecado
De mim,
Mas se sou um santo
Então aqui canto,
Eu canto mil vezes sem fim.
E quando eu quero
Cantar
De estar afastado
Aqui,
Cantando, eu espero
Estar
Só mais apegado
A ti.
O fado dá certo,
Viajo mais perto—
Escuta, já estou quase ali.
E não há um dano,
Pois não,
Cantando, sonhando,
Com fé.
Eu não te engano,
Então,
E não estou pecando,
Até,
Mas canto baixinho:
Já vou a caminho,
No fado do meu coração.
A FESTANÇA
Não é um feriado,
Nem há qualquer desfile.
O povo animado
Pede, “Só mais um barril!”
O vinho é do Porto,
De todo o país,
E o melhor desporto
É estar e ser feliz.
Não faltam os petiscos
De cada região,
Sardinhas e mariscos,
Chouriço e leitão.
O rancho já lá dança—
Bailemos nós também—
Que festa, que festança,
Sim, isto sabe tão bem.
A festa foi marcada
Só para celebrar,
Sem máscaras, nem nada,
Juntinhos a bailar.
A triste pandemia
Passou, enfim, enfim—
Só resta alegria
“Vai mais um copo?” Sim!
E grita-se na pista,
Aqui e onde for,
“Já vem aí fadista!
Silêncio, por favor!”
Lá canta, “Minha gente,
Vós que aqui estais,
Os dias pela frente
Já não serão fatais.
A vida que nos resta
É para se viver.
Vós, povo, nesta festa,
Tenhais esse grande prazer.
Mas lanço um assunto
A cada um de vós,
Cantando, só pergunto,
Sem Deus, quem somos nós?”
PAÍS DOS COITADINHOS
Se somos o país dos coitadinhos,
A culpa é de cada um de nós—
Aqui em casa e lá os vizinhos,
Herdámos a pobreza dos avós,
Pensando que nós não valemos nada,
Mas isso é riqueza descartada.
E neste jardim à beira mar plantado,
A terra que é nossa desde então,
Na língua de Camões e Saramago,
Clamamos pelo Dom Sebastião—
Os bens de todos os Descobrimentos
Tornaram-se apenas em lamentos.
Julgamos que não temos muita sorte,
Sem caravelas para navegar,
Mas entre esta vida e a morte,
O fado nada vai desperdiçar—
Heróis do mar e desta triste terrinha,
Há muita coisa que se avizinha.
Mas para isso há que ter coragem,
Perante a nossa triste pequenez,
E sendo lusitana a linguagem,
Eu canto mais um fado outra vez:
“Ó povo, povo que lavas no rio,
Eu te pertenço neste desafio.”
O Dom Sebastião não deixou rasto,
Mas não se perdeu tudo para já.
Eu tenho fé no fado e afasto
O ar de coitadinho porque há
Um Deus que na saudade traz certeza
De que a vida pode ter mais grandeza.
Emilly Barreto é poeta cordelista, pesquisadora e declamadora, brasileira, sergipana autora das obras: “Lampião, Herói ou Vilão?” (2019), “Jeitinho brasileiro, o apelido da corrupção” (2020), “Duas faces de mim” (2021), "Padre Léon Gregório, o profeta do sertão" (2022).
EMILY
BARRETO
@emillysilvabarreto
DOAÇÃO
Quando meu ventre tornar-se casa
Fecundando feito terra fértil recebendo semente
Vai germinar, girar, gerar
Gerar flor, gerar vida menina.
Quando a vida-flor
Se puser a crescer
Dentro do meu canteiro interno
E em resposta todo o meu corpo crescer junto
Como casa em reforma para receber um novo membro
Que passará desde então a me acompanhar
Na carreira, outrora solo.
Quando meus braços magros buscarem
Forças para se converter em berço,
E meu seio firme e erguido se render a gravidade.
Como o solo, vou doar meus nutrientes vitais
A nova flor, que de mim brotou.
Quando eu me dispuser
A doar meu corpo, meu tempo, meu sangue
Minha vida de flor, para dar vida a outra
Só aí vou entender o que é o verdadeiro amor.
Precaução
Meu amor não é todo teu
É um pouco das flores
Outro tanto das cores
E o restante ainda manterei guardado
Para outros amores.
Meu carinho não é todo teu
Ele é dividido
Entre olhares e sorrisos
Que não são só para ti
Pois somente assim
Se um dia você partir
Restará ainda, algo em mim.
Covardia
Eu me atrevo a escrever
Sobre a seca e a estiagem
Caatinga Mandacaru
Que compõem nossa paisagem
Mas falar sobre o amor
Eu nunca tive coragem.
Eu prefiro escrever
Sobre as pedras do caminho
Sobre o cacto o rebanho
Sobre o pássaro no ninho
Pois o amor fere mais
Que o cravar de um espinho.
Eu prefiro escrever
Sobre a vida no sertão
Sobre a cultura local
Sobre a nossa tradição
Pois perigoso é tratar
Das coisas do coração.
Eu me atrevo a escrever
De tudo em qualquer momento
Mas digo a qualquer pessoa
Que se nenhum fingimento
Tenho cá minha covardia
Pra falar de sentimento.
O verso é feito uma espada
Afiada para cortar
Por isso vou procurando
Outras coisas para rimar
O amor é ferida aberta
Que eu não uso cutucar.
CORRIDA
Os dias passam tão rápido
Cedo o sol beija o céu,
Logo a noite abraça tudo.
A vida passa tão rápido
Cedo o ventre beija o feto
Logo a morte abraça tudo.
E todos correm, correm, correm
Cedo levantam, tarde se deitam
Pegam ônibus, metrô, avião
Correm, caminham, rastejam
Se cansam, mas jamais alcançam
O passo da vida.
Tiago Antônio dos Santos editor escritor de Belo Horizonte capital de Minas Gerais no Brasil entusiasta das Artes, das ciências e das místicas, tem empreendido Cultura e informação nas regiões do Barreiro e de Ibirité, margeando a serra do Rola Moça
TIAGO DOS
SANTOS
@tiagantonio
Imundólar
O nome dele eu prefiro não dizer
mas é por causa dele que estão a matar e a morrer
ele é bem conhecido no mundo inteiro
tem sabor de pólvora, o sangue negro é seu cheiro
gira todo o planeta todo dia
é o que comanda a guerra a fome e a agonia
sua aparência é frágil e delicada
quando ele está com você, você não cessa a risada
facilmente ele ilude uma pessoa
parece inofensivo, parece que quem está com ele está na boa
mas não se deixe enganar por sua simplicidade
ele já ergueu e devastou várias cidades
agora mesmo ele está matando alguém
sede de sangue, fome de morte ele tem
sua existência é para fazer você ter medo
ele destrói todo o mundo e não guarda segredo
o seu Império já está estabelecido
por isso ele chacina, para que seja mantido
vários por sua culpa enlouqueceram
também por culpa sua, outros vários se prenderam
à uma emaranhada teia de insanidade
que velozmente devasta com voracidade
toda estrutura existente é obra sua:
bancos, presídios, cinemas, foguetes para a Lua
bocas de fumo, prostíbulos, supermercados,
usinas nucleares, carros Fortes blindados
todo o esquema é parte do seu sistema
pena de morte é o seu lema
“nós confiamos em deus” esta é a sua estampa
blasfêmia arrogante, tem quem se encanta!
a sua doutrinação começa em qualquer escola
Governador da Terra seu nome é dólar!
VIGILANTE
Vigilante
não deixo a bíblia na estante
Leio e releio constantemente e sigo adiante
Se eu sou católico ou protestante isso é irrelevante
eu quero é que meu povo se levante!
o governante mata de sede o Infante
Constituição aberrante com seus erros gritantes:
Álcool, veneno mortal, lucro do comerciante
um reles baseado é considerado flagrante
país gigante de gente simples, ignorante
que se ajoelha perante a marca do refrigerante
feito à base de coca intoxicante
sufocante é o ar da favela distante do grande centro elegante
são só os setores do inferno de Dante
cidade organismo pulsante, onde o crime é mais cativante
do que a modelo de vestido esvoaçante
não se espante com a velha guerra estressante
para colher Liberdade, Verdade plante!
Sagrada Cultura
Para plantar a verdade e colher Liberdade por Eras sem fim
para integrar a energia de todo o universo, de você e de mim
para que toda a gente chegue junto na frente de cabeça erguida
é o mesmo sangue corrente, o coração quente sente, esta é a nossa vida
a Caridade fraterna, comunhão sincera, essa é a nossa cura
vanguarda na guerra, a espada que impera é a sagrada cultura:
O Novo Testamento no meu pensamento, palavra e ação
Deus que abençoa, livra e guarda e perdoa, essa é a missão!
para plantar a verdade e colher Liberdade por eras sem fim
para integrar a energia de todo o universo de você e de mim!
Santa Cruz
As nossas raízes são sagradas
concebidas em mata e água Virgens
as nossas raízes são profundas
estabelecidas em Terra firme
a nossa herança é a Santa palavra
a salvação pertence ao que persiste
quem nascer nessa pátria consagrada
Experimentará o que o Cristo disse!
Ó Brasil de fé celestial
aceite o seu dom primordial
é sua aquela missão de Portugal:
evangelização universal!
Bendita e Eternal Ordem de Cristo!
através do tempo o templo do Santo!
para cada ovelha o seu aprisco!
Ofir Jesurum é nosso canto!
uma só mensagem para todos:
puro Jesus venceu a Cruz por nós!
admitindo ser puro o seu povo
Deus sempre ouvirá a nossa voz!
Ó Brasil de fé celestial
Aceite o seu dom primordial
Valmir Jordão é poeta, compositor e performer. Nasceu no Recife, é partícipe do MEI/PE (Movimento dos Escritores Independentes de Pernambuco), desde 1982, nas ruas, praças, sindicatos, cinemas, teatros, escolas, universidades e nos festivais por todo o Brasil. Publicou: Sobre vivência (1982), Poe mas (1999), Hai kaindo na real (2008), Poemas diversos (2013), Poemas reunidos (2015), Poemas recifenses (2019).
Minhas páginas no Facebook:
Literatura & Resistência, Hai Kaindo na Real, Poemas Recifenses e Jucativa
VALMIR
JORDÃO
@valmir.jordao
Das Sombras e Solares
Amanhecer no êxtase de um bode
Depois de um pós-monumental porre
E uma irritante voz
A desejar bom dia
Ignorando a tremenda mancada
Traduzida em mal-estar e epilepsia
Notícias de TV, cenas estúpidas
De baixarias e mediocridades
E no planalto,
Vários planos a nos arrebentar
Tráfico de drogas, de influências e
cumplicidade
Estado-positivo, governo-negativo
De um postal apresentando as capitanias
hereditárias
Que ainda cultivam
Essa wave-norte-américa-otária!
E cai a tarde, réus, vítimas em juízos
A deformar toda dignidade
E você sonha com a felicidade
Dizia o triste que a tristeza é bela
E o solitário: solidão é fera
Entre mendigos, shoppings e absurdos
Produz-se tudo com arbitrariedade
Consolidando o corporativismo
E as consequências são coincidências
A despistar
E as evidências ecoam na noite
Um escândalo, um homicídio
A distrair os corações urbanos
E a destruir a ilusão dos vândalos.
Depois cigarro, good night, um tapa
Noturna láctea birinaite atômico
Nas avenidas cruéis, embates anacrônicos
Pandemia rima com covid, cólera, malária
E consumismo sub-reptício
Legitimando o desejo canalha
Que ainda cultiva
Essa wave-norte-américa-otária.
A eterna comédia humana
A poesia é irmã da rebeldia
e traz consigo toda a sedição,
não se apraz com a injustiça
nem apoia essa situação.
Gritam os tiranos: - Morte aos poetas!
Desapareçam dos nossos domínios
esses desagregadores da ordem social,
sumam com suas ideias e vaticínios.
Ainda ontem sofri um atentado -
Seis tiros, um na nuca e cinco nas costas
quatro sicários, psicopatas milicianos,
a ignorância é o recado como resposta.
Em narcose devido aos disparos,
vislumbrei toda a ancestralidade
questionei sobre o acontecimento,
não se dar importância a nulidade.
Sucumbir entre os chacais é emblemático.
É o signo onde perscrutam os hermeneutas
não alardem, ficam quietos nessa fleuma,
tergiversam, quais inadimplentes enfiteutas.
E assim descaminha a humanidade.
Relativizam, banalizam de forma capciosa
E a poesia transverbera, emana das pedras,
revela, denuncia a realidade tenebrosa.
agonia
quando as brumas dos sonhos dissipavam
náufrago, ao queimar os meus navios
a minha alma, faca de dois gumes
açoitava o verão que oprimia
e o tempo tornou-se meu inimigo
aderindo a esta distopia.
as flores exalavam asfalto quente
e as cores apresentavam-se deprimentes
invoquei, implorei aos ancestrais
pela volta da eterna primavera
que os olhos esperavam entredentes.
porém, prefiro o brilho dos punhais
a essa paz, dominada pelo medo
na disputa dos eternos ideais
é como não dormir, e morrer cedo.
renga social
racismo
sabe lá o que é irmão -
ir ao mercado fazer compras
e ser tratado como ladrão.
black power
podes achar feio e ruim -
faz-me ser um Sansão de ébano
o meu cabelo pixaim.
homeless
você, no aconchego do lar -
sabe o que é acordar sem ter
onde escovar os dentes e defecar?
casebre
a tua pala
me tirou
da fita.
invernal
lavei as feridas no outono interno -
hoje vejo o mundo a chorar
nas plúmbeas nuvens do inverno.
Jesseh Silva - Escritor, Assessor Jurídico, Professor e Pai.
Escrever é vida. Vida que doa palavras. Palavras que geram vida.
Página de Facebook:
Jesseh Silva escritor - Crônicas, Poemas, Contos e Histórias.
JESSEH
SILVA
@jessesilva1171
ESFERA
Na esfera do nada.
Nada faz sentido.
Sentido contrário.
Em sentindo incerto.
A esfera se desfaz.
O moribundo aguarda incólume.
A esfera tem ritmo.
O som de um cajon.
A melodia da morte.
Tem solo de Bach.
A trilha do filme.
A sinopse do drama.
O personagem que morre.
No final da vida.
A mocinha que chora.
A bilheteria não devolve.
O ingresso do homem.
A amada não veio.
Que se dane a fita.
A esfera gira.
Em sentido contrário.
O moribundo reage.
A esfera não para.
Nada faz sentido.
O mocinho do filme.
Não é páreo para cena.
O vilão não quer mais.
Ser mau sem ter beijo.
Monroe é a diva.
Dos sonhos de Ícaro.
A esfera é de aço.
O sonho é de cera.
O beijo da morte.
Encantou o mocinho.
O moribundo espera.
Que a esfera se refaça.
Em ritmo mais tênue.
O cajon não tem vez.
Na música de Wagner.
Encontrou uma vaga.
Na trilha do filme.
Na sinopse de Benigni.
A esfera se refaz.
E nada faz sentido.
RETALHOS
No auge das linhas escritas, eu desisti de continuar o conto.
A noite chegou e o sono furtado gerou um hiato entre cansaço e descaso.
O dia amanheceu e eu ousei contar um sonho insano.
A folha de papel rabiscada, continuava ali, estática, confusa, esquecida.
Ouvi de um aldeão que dizia sobre o mundo. "Em breve, haverá um fim. Mas não antes de se transformar em um condomínio chamado, Solidão; ocupado por gente carente e indiferente aos aderentes, egocêntricos indivíduos, e depressivos solícitos.
A tarde passava e o conto bendito era apenas um mero rascunho sem nexo e desconexo da realidade maledeta.
A jovem tecelã perdeu o compasso e o tear emperrou. A arte da trisavó enferrujou com o tempo e, nem sequer, foi capaz de ultrapassar o túnel refluxo da geração vogante.
O ribeirinho inferiu soletrar a poesia de Cervantes.
O tempo passa e a escrivaninha se enternece com o conto inconcluso.
A noite retoma o seu turno, e o espírito insone atravessa a ponte. O ribeirinho se dedica, à luz da lua, entender quem Cervantes, é. A tecelã sonha com a trisa a reclamar a arte esquecida.
E, ainda assim, o conto continua ali, sem saber afinal, se moral terá a história.
TUDO ESCURO!
Escureceu.
Estou assustado.
Agora, minhas mãos substituem os meus olhos.
Começo a tatear as paredes do meu pequeno espaço interior.
Tropeço em algo.
Talvez, uma velha lembrança.
Ou quem sabe, uma lembrança insistente.
Sentei no chão.
O chão se move.
Tenho a sensação de que estou levitando.
Eu não quero levitar.
Eu tenho medo.
Medo de desabar.
Medo de me machucar.
Medo de morrer.
Medo de cair sobre o nada.
O nada da existência me domina.
Agora, estou em pé.
Não sei ao certo.
Tateando, tenho a impressão de que estou em um corredor.
Sim! Estou no corredor.
Não estou confortável.
Não entendo.
O meu pequeno espaço interior tem um corredor.
Agora, a sensação mudou.
Fui transportado para o vagão de um trem.
O trem está em movimento.
Continua escuro.
O trem vai parar de correr?
Ou será que vou morrer?
Estou desconfortável.
Lembrei o momento em que a luz apagou.
Eu estava em algum lugar.
Eu lia um livro.
Uma saga.
Um autor sombrio.
O livro ficou aberto sobre a escrivaninha.
Não lembro se usei o marcador.
Gritei!
Queria apenas uma informação.
Certo é que o meu grito se perdeu no eco do tempo.
No corredor do meu pequeno mundo interior.
Queria tanto retornar para minha escrivaninha.
Lembrei!
Página 55.
O marcador está na página 55.
Continua escuro.
Estou exausto.
Entediado.
Desconfortável.
Preciso voltar e continuar a leitura.
Voltar para a minha vida.
Entretanto, continua escuro!
No entanto, continua escuro!
A PROPÓSITO
Preciso te dizer.
Ainda não foi possível compor a canção.
Quanto ao poema.
Nem sei se sou capaz de iniciar a primeira frase.
E sobre o meu humor.
Estou bem, apesar do mau humor.
Se eu já escolhi o personagem da próxima história?
Ainda não!
A propósito.
A crônica de ontem ficou horrível.
Na madrugada passada eu estava com uma inspiração insone.
A pena falhou.
Que pena.
Eu passei o tempo relendo Drummond e o dia amanheceu.
Esqueci tudo o que ia escrever.
A propósito.
A Geni não existe e jamais existiu.
Foi apenas a personagem da música de Chico.
Ainda mais essa.
Não posso criar o meu próprio personagem?
A propósito.
O Hórus do romance não sou eu.
Meu nome não é Hórus.
Não adianta.
Eu não sei desenvolver um acróstico.
Mas eu gosto de música acústica.
Se eu faço palavras cruzadas?
Só as fáceis.
A propósito.
Desisti de aprender.
Xadrez é complexo.
Estou aguardando a chegada da minha bela Dama.
A cartolina de boas-vindas já está pronta.
Só.
Somente ela sabe o que está escrito.
Eu queria ser pai de um menino.
Minhas meninas são lindas.
Meu humor está alterando.
Que bom.
A propósito.
VANESSA
BARRETO
@poesia_natureza_corpo
VANESSA de OLIVEIRA MENA BARRETTO; é de Campos Novos/SANTA CATARINA, BRASIL, morou no Ibicuí “interior”, Poeta desde criança, Ama a Poesia/Natureza/Canto/Recitar, Professora, Mãe, Dona de casa, Escritora, Influencer!
Espera/acredita que suas Poesias e recitações vão encantar o mundo! Nasceu em 17.Abr.1990, com participações em mais de 8 livros, É autora do livro: “O seu Dia com Poesia”, siga-a no Instagram, Tiktok, Facebook.
Liberdade de pensamento
Ah essa liberdade que faz tão bem
Poder falar, ser ouvido também
E como é bom!
Pensamento que invade
E me leva a mergulhar
E refletir em pensamentos
E em tantos momentos.
Pensar, pensar, pensar
E em algo chegar
O poder que faz o mundo
se abrir à mais.
Eu penso, escrevo, tu lês
E pensa, e pensa e repassa
E escreve e outros leem
E assim vai...
Ligação em pensamento
Permissão para expor
Sentimentos... E como é bom!
Querer e poder ser voz!
Pare para olhar
Pare para olhar
E se parar!
Olhe.
E se olhar
repare
Repare e reflita
e veja as coisas lindas
que a natureza tem para oferecer!
Ela oferece
O encanto
A paz
A mansidão
A calmaria...
Pare para refletir
e Se sentir
no respirar
sem se apressar
somente sentir!
Sentir o valor
que os momentos bons tem!
Sentir
Ressentir
Estar
Sem estar
Reparar e seguir
Seguir sem se esquecer
que na natureza
tem o que precisar
sem abusar
mas reutilizar
e ficar...
Ficar em Paz!
Aproveitar a vida
É aproveitar um por do sol
de um fim de tarde lindo.
É aproveitar a sombra
de uma árvore no verão.
É aproveitar um abraço verdadeiro
único e inesquecível.
É aproveitar um banho de
chuveiro após a chuva fria.
É aproveitar o cheiro das flores
enquanto exalam seus perfumes.
É aproveitar olhar para o céu
deitada em uma grama macia.
É sorrir sem se cansar
após uma boa piada.
É dançar sem medo uma
música sua eternizada.
É viver sentindo a brisa
o sol, o céu e seus encantos.
É amar mais e julgar menos
não perder tempo com o imudável.
E seguir e buscar os sonhos
sabendo que o pouco que se faz é bom.
É ouvir sua música preferida
e voar, imaginar... VIVER!
Aproveite a Vida!
Teclas do computador
Sempre fui encantada em poder
olhar alguém em minha frente
mexendo nas teclas do computador
cada letra digitada na tela eu olhava
e para mim
sempre foi um fascínio.
Deve ser por isso que hoje
Sou o que sou! Escritora.
De fato sempre Amei
Quando adolescente escrevi reflexão
do que é o Amor .
Passou o tempo...
E só com quase trinta anos que tudo fluiu
Que o que eu nunca imaginava
se tornou um sonho real em vida
Agora... Escritora, Poetisa.
Continuo a amar cada letra que surge na tela
Só que agora a diferença
é que quem esta digitando
Sou eu!
Aquela linda menina
Que hoje é está mulher Amostrada
Com sonhos, vontades, realizações
E com projetos pela frente
Com boas parcerias
Realização!
Sonhos e realidade juntos!
Eu... Poetisa eternamente.
@manisvaldojorge25
MANISVALDO
JORGE
Voltar
Queria eu voltar
Para não mais voltar
Queria estar preso
Tão condenado na volta
Só para não ter que voltar
Queria eu não evoluir
Só para não te ver partir
Às vezes penso
Se o tempo voltar
Assim como eu volto
Todos os dias
Ao pensamento de voltar
Regressar aos doces dias
Da minha ingenuidade
Regressar à felicidade
Pausar minha idade
E não te perder
Apenas te ganhar
Para toda eternidade
Queria eu voltar, voltar
Esse meu amor
Esse meu amor,
que não sabe falar
Quando é para se revelar
Trêmulo e louco fica
Minha boca só olha
Meus olhos enfim falam
Agora ou nunca
Falar nada, nada...
Dizer tudo, tudo...
Sou eu, o falador
Não falo de falar
Só falo de olhar
Ela, a ouvidora
Só ouve de ver
não ouve de ouvir
Esse meu amor
Que não sei entender
Como se faz perceber
Tem suas formas
Tem suas normas
Eu ,mudo, falo
Ela, surdo, houve
Zungueiras
Zungueiras, pela manhã, vão, fortes como as correntezas do rio. Voltam, pela tarde, como ondas do mar atiradas pelo cansaço. Vão, voltam e vão...
Mães trabalhadoras, africanas, angolanas, levam, em seus corpos, o futuro dos filhos e a velhice amarga dos maridos. Andam o mundo, cansadas, não descansam, beijam seus reluzentes pés o solo, banham o corpo na chuva de calor cuspida por uma sol bravo, suas vozes em tons berrantes, gritos gritantes, correm e encontram os ouvidos do mundo: Éh, Lambula, éh, lambulaaaa!
Têm o aroma a sair, mas longe do seu sentir. Minhas palancas negras, guerreiras, mulheres de seios café e carapinha dura, imbondeiros inderrubáveis, rainhas que divorciadas da vaidade se entregam a triste e duríssima realidade.
Quem mais, senão vocês, leva uma bacia com pão na cabeça?
Quem mais, senão vocês, trabalha muito e ganha pouco?
Acordam antes da aurora e vejam o sol a morrer.
Sem relógio, sabem bem contar o tempo.
Surpreendem o ladrão para dar ao filho galardão.
Castigam o corpo e alma na venda inútil do dia a dia?
Quem mais, quem mais?
Ninguém mais, ninguém mais. Só vocês!
Perdem o dia, ganham a noite.
Com a noite ganham um outro dia!
Amor e minha fé
Nada mudou, tudo tem a mesma dinâmica: nossa casa humilde, nosso pequeno jardim, os pássaros e seus lindos cantos, o mar da Corimba ainda bota seu cheiro de paz todas as manhãs, do nosso teto ainda se pode ver o sol beijando o amor.
À noite, a lua permanece incorruptível, brilha e expulsa as trevas para longe de nossa casinha, as estrelas são sempre numerosas e incontáveis. Eu ainda sou a moça linda que pintou em sua poesia, meus cabelos continuam sendo cor de neve, meus olhos ainda são faróis, minha pele é linho fino, minha voz é como som de muitas águas, meu coração ainda é seu, para outro amor sou ateu. Não mudo minha crença, ainda faço minhas rezas e tenho a mesma fé, porque sei que um dia, assim como em contos de fada, um beijo quebrará esse feitiço e você voltará das entranhas da terra para mim, para nós, para o nosso amor.
Márcia Neves é formada em Letras, atua na área ministrando aulas de Português, Redação e Língua Espanhola, é mãe do pequeno Yohan, autora do livro Grades de liberdade e coautora nas Antologias poéticas: Mythos e O livro das memórias. Declara-se amante das letras e apaixonada por poesia, sempre gostou de escrever. É brasileira, natural de Paripiranga, cidade interiorana no oeste da Bahia. Nasceu em 1982. Há quase 20 anos reside no litoral sul do estado de São Paulo. Acredita na força reflexiva de suas poesias e busca tocar o coração de seus leitores a cada escrito que publica.
MÁRCIA
NEVES
@seveneducacao
DEUS, O LUGAR E O TEMPO
Perguntaram-me certa vez
De onde vem a calmaria?
Consegues um equilíbrio
Exultante de alegria
Espalhas amor
E um cuidar a cada dia!
Olhei, entreolhei-me
De fora, nada pude ouvir
Era barulho que fazia
Ninguém se apercebia.
Aqui dentro de mim
O barulho que oscila
Revela espaços
Que precisam de mim
Mas, o que há de mais certo
Seguro e sentido
São os espaços que ocupo
As pessoas com quem convivo
E o tempo que não é meu
Pois, o melhor da vida
E as certezas de que preciso
Sempre se revelam
No tempo de Deus.
DEDICATÓRIA
À vida, os encantos
À memória, o contemplar
Ao sentir, sem prantos
Ao tempo, o eternizar
À motivação, o querer
Aos sonhos, o caminhar
À caminhada, o continuar
Aos medos, o destemer
Aos erros, o recomeço
Às descobertas, o glorificar
Ao desconhecido, o apreço
Às novas histórias, o garimpar
Ao garimpar, o encontrar
Ao mundo, o despejar
Ao adeus, o agradecer
À gratidão, o padecer
QUERENÇA
Queria um dia, que fosse só meu
Pra pensar em tudo
E nos nadas de Prometeu
No qual pudesse ser
O vazio que me sustenta
Nesses dias cheios
Que só me atormentam
Um dia que fosse meu
Para poder existir
Ouvir a chuva, dançar e colorir
Sentir o vento, ser o silêncio
Que se compraz, talvez em mim
Sonhar com a vida
Vazia de afins
Respirar um mundo
Que há de existir
Um dia
Em que cada um
Possa viver,
E ser dono de si
Sem cobranças
Sem tempo
Sem arrogâncias
Com tolerância
Com respeito
Às diferenças
Aos sonhos de cada um
Mesmo que esse dia
Fosse só um
Certamente não me sentiria
A Macabéa
Mas seria um pouquinho de mim
E teria, por fim
Como em Clareando do Alttin
E a minha Lispector
A minhA Hora da Estrela
CEGUEIRA
Indignar-se é ligeiro e urgente
Perante o ser, sentir trans e universal
Que de nada adianta fingir ver
Se o poço da cegueira é pedestal
Pra salvar-se, fugir de qualquer mal
Amiúde, que condenam a nação
Disponho a escrever nas entrelinhas
Preceitos aos olhos e ao coração
Que o mundo é desigual e incoerente
É sabido por qualquer influencer
De Norte a Sul, em qualquer continente
A vida como num açoitar de vento
Se tempestua, pisca e passa em momentos
Finca-se em si e não perdoa lamentos
MARCELO
GIRARD
@marcelogirardcom
Marcelo Girard é carioca, poeta e compositor. Em 1990 com apenas 16 anos lançou o polêmico livro de poesia O Dente Cariado De Cristo, em 1999 RAIVÓDIO POESIA MIX.
Em 2005 com prefácio do crítico literário de O Globo, André Luis Mansur, lança O Perfume do átomo. E em 2016 lança nas plataformas digitais Dublê De Figurante.
Foi criador da primeira rádio de poesia e literatura do Brasil fundada em 2007 até 2020.
É editor-chefe de jornais e revistas on-line no Brasil.
Em julho de 2021 foi publicado pela Academia Brasileira de Letras na Revista da instituição com 6 (seis) poemas.
O poeta participou de coletâneas com autores como: Ferreira Gullar, Olga Savary e o imortal Antônio Carlos Secchin e diversos eventos, feiras literárias, Bienais e exposições nestes 30 anos de poesia.
Conheça mais do autor no site marcelogirard.com
– NÃO VOU AO MEU ENTERRO –
Para evitar o cheiro das flores
O choro do meu inimigo
O encontro de meus dois amores
As roupas apertadas
Parede de madeira envernizada
O sono silencioso dos sonhos
A maquiagem fora de moda
Rabecão correndo sem cuidado
Pertences pelo coveiro roubados
Eu virar santo
Qualquer um da autópsia
Desnudar o manto
Um padre desconhecido
A missa comprada
Uma reza obrigada
E em vida me lembrar
Que não fui nada.
– CONSECUÇÃO –
A alma procura a trilha da paz,
Não consegue abrigo.
É como semente de pão
Que não vira trigo.
O corpo procura uma carne
Que deseje se espetar.
É como vinho no cacho
Que não consegue embriagar.
O corpo tampa a alma
Como uma parede
Que quer balançar sem rede.
A alma está dentro do corpo,
Por isso não deve opinar.
É como um caixão
Que não consegue se matar.
– FLOR DE SAL –
Somos como duas mãos
Guardando confetes,
Esperando o carnaval.
Uma taça dentro da outra, frágeis.
Transparentes como saliva na boca.
Estamos ilhados em nós,
Procurando a luz como girassóis.
Duas estrelas em rota de colisão.
Não sabemos o segredo da mágica.
Somos Lua cheia no verão,
Abelha e planta autofágica.
Fizemos trilhas erradas,
Choramos vermelho,
Seguimos as bússolas imantadas.
Nos transformamos como cacau:
Do amargo ao doce.
E hoje somos raros...
Como Flor de Sal.
– FILOSOFIA DA PORTA –
Tem gente que fecha a porta e não quer sair,
E gente que não abre a porta e fica parado.
Tem gente que chega perto mas não quer abrir,
Outros preferem a janela para fugir da porta certa.
Tem gente que empurra a porta mas não quer ir,
Tem até quem constrói uma porta ao lado da aberta.
Também tem os que dizem que não viram a porta !!!
Alguns deixam a porta semiaberta.
E tem aqueles que já estão lá dentro,
Quando aqui fora aperta.
Outros em clima de alerta,
Se escondem atrás da porta.
E tem gente que faz tudo isso
Diferente,
E nem se importa.