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Foto do escritorLuiz Primati

CONTOS DE UM FUTURO DISTANTE Nº 19 — 21/06/2022

Alessandra Valle fala sobre encontros e despedidas. O quão difícil é despedir-se de alguém com quem convivemos por décadas? Eu, Luiz Primati, trago a primeira parte de um conto de 2018, publicado inicialmente no Facebook em partes e depois entrou para o livro: "Velhas Histórias Urbanas" que foi baseado num fato. O nome do conto é "Sombra e Escuridão". Ricardo dos Reis nos traz mais um conto "O Elevador de Pandora".


Esse caderno tem a intenção de divertir os nossos leitores que, sempre acabam tirando algum ensinamento para suas vidas.

Leia, Reflita, Comente!



Sombra e Escuridão foram empalhados e estão expostos no Museu de História Natural de Chicago


DESPEDIDAS


por Alessandra Valle


Trabalho há quase 13 anos na "Desaparecidos". Durante esse período encontrei muitas pessoas, reencontrei outras tantas, mas infelizmente, precisei me despedir de algumas.


Não consigo contabilizar quantos colegas policiais tiveram sua lotação conosco e, por algum motivo, foram transferidos.


Não sou boa em despedidas. Afirmo isso porque sou emotiva, costumo chorar, mas quem não chora?


Nesse plantão, estava acontecendo exatamente a despedida de um colega que serviu durante alguns anos à “Desaparecidos” com sua nobre arte, quando fomos interrompidos por um rapaz que adentrou à delegacia para fazer a comunicação do desaparecimento de sua mãe.


O rapaz chorava tanto que cheguei a oferecer um pouco de água com açúcar, na tentativa de acalmá-lo, entretanto, afirmou ser diabético e, por óbvio, negou minha "doce oferta".


Entre soluços, pude compreender que sua mãe teria passado o final de semana na casa do namorado e deveria ter ido trabalhar na segunda-feira, mas era terça-feira e ela não regressara à casa.


Foram realizadas as pesquisas aos bancos de dados disponíveis à polícia em nome da desaparecida, mas nada relevante fora encontrado.


À medida que o filho chorava e contava um pouco sobre o relacionamento conturbado entre a mãe e o namorado dela, mais era convencida de que era necessária a oitiva do namorado, afinal de contas, ele fora a última pessoa com a qual a desaparecida esteve.


Uma equipe de policiais estava saindo em diligência para intimação pessoal do namorado da desaparecida quando um homem adentrou a delegacia trazendo uma mala na mão.


— Eu era o namorado da desaparecida, mas ela terminou o relacionamento comigo, no domingo e foi embora da minha casa, sem dizer para onde iria — disse o homem, enquanto esticava o braço tentando me entregar a mala.


— O que tem nessa mala, senhor? - perguntei na tentativa de iniciar o interrogatório quanto antes.


O namorado, que agora se afirmava ex nada disse, apenas me entregou a mala.


Ao abri-la verifiquei que em seu conteúdo trazia roupas e alguns produtos de higiene.


— Com que roupa sua ex namorada saiu de sua casa, no domingo? - perguntei, enquanto continuava a vasculhar os pertences da desaparecida.


O interrogado ficou nervoso, balançava as pernas sem parar e iniciou sudorese, enquanto eu tirava os pertences da desaparecida e os colocava sob a mesa.


O interrogado respondeu pelo menos três possibilidades de vestimentas da desaparecida, sem precisão.


Logo, tratei de conversar com os colegas policiais e solicitei diligência ao local da residência do namorado, que passou a ser suspeito, diante de tamanho nervosismo e incoerência.


Continuei o interrogatório, perguntando sobre a rotina do casal durante o final de semana e as respostas apresentadas eram sempre diferentes a cada vez que eu renovava a pergunta.


O interrogado chegou ao ponto de trocar o dia da semana em que houve o rompimento da união do casal e que a desaparecida havia deixado sua residência.


O interrogatório durou mais de 4 horas. A intenção de uma oitiva longa não era apenas para que as contradições fossem apontadas, mas principalmente, para dar tempo de a equipe de policiais vasculharem a localidade onde o suspeito residia e buscassem informações com vizinhos e outras testemunhas relevantes.


Foi quando o telefone do plantão da “Desaparecidos” tocou e um dos colegas informou que o corpo da desaparecida fora localizado dentro de uma caixa de televisão descartada no lixão próximo à residência do namorado.


O autor do homicídio e ocultação de cadáver da namorada estava diante de mim, enquanto eu recebia a triste notícia de sua localização por telefone.


Após encerrar a ligação, apenas mais uma pergunta fiz ao homicida de modo a encerrar o interrogatório:


— No último final de semana, o senhor comprou uma televisão nova e jogou a caixa fora?


O homem colocou as mãos no rosto e começou a chorar, enquanto, eu comunicava sua prisão.


Colegas levaram o autor do crime à cela e momentos depois pude me reunir com o filho da desaparecida para lhe dar a notícia da localização de sua mãe, infelizmente, sem vida.


— Eu não pude nem me despedir dela – disse o rapaz, enquanto chorava.


Aquele plantão foi intenso e não tive tempo de me despedir do colega transferido para outra unidade policial, ainda bem, pois eu estava profundamente emocionada e choraria também.



SOMBRA E ESCURIDÃO

por Luiz Primati


CAPÍTULO I — TERRITÓRIO DESCONHECIDO


John chegou empolgado em Tsavo, no Quênia. Iria supervisionar a construção de uma ponte ferroviária sobre o Rio Tsavo. Para ele, missão dada era missão cumprida. Fazia calor no dia que chegou. Aliás, todos os dias eram quentes no Quênia, mas aquele em especial parecia ser mais quente que o normal. O suor escorria pelo seu rosto. Logo que chegou se reuniu com os empreendedores responsáveis pela construção da ferrovia. George, chefe local desse trecho da ferrovia, recebeu John com um forte abraço.


— Seja bem-vindo John. Estávamos ansiosos pela sua chegada — falou George entusiasmado.


— Prazer em conhecê-lo, senhor. Como foi sua viagem? — Elisabeth apertou a mão de John com entusiasmo.


— Foi muito tranquila. Estou muito honrado de ter recebido essa missão.


— Entre. Sente-se junto a nós. Vamos tomar um café e conversar.


A sala improvisada numa barraca no meio do acampamento era simples. Chão de terra batida, um piso de madeira sobre à terra. Uma mesa grande ao centro onde se faziam as reuniões. Num dos cantos um farto café. Leite, café, pães, geleias, frutas. Tudo bem fresco e organizado. Para John aquilo era demais. Estava acostumado com a vida dura do exército.


— Aqui é necessário alguém de pulso firme para comandar esses nativos — disse George.


— Pode contar comigo. Se é disciplina que eles precisam, terão. — Riram. — Mas me explique mais sobre o projeto.


— Elisabeth vai lhe mostrar — disse George.


Elisabeth abriu os projetos sobre a mesa e começou a detalhar.


— Esse é o projeto completo. Essa ferrovia ligará Uganda com Porto Kilindini, no Oceano Índico. Sua responsabilidade é comandar apenas esse trecho aqui — apontou no projeto. John colocou os óculos para ver melhor.


— É a ferrovia sobre o Rio Tsavo como me falaram.


— Exatamente — confirmou George.


— E quantos trabalhadores temos por aqui? — quis saber John.


— Por volta de 300. Muitos deles são indianos — observou Elisabeth.


— Puxa, é um exército — riu John.


— Um batalhão de soldados indisciplinados, eu diria — observou George.


— Tem razão George. Deixe comigo — disse John.


John, nascido John Henry Patterson, preferia apenas John Patterson. O ano de seu nascimento datava de 1867, no condado de Westmeath na Irlanda. Seu pai era protestante e sua mãe católica. Logo que teve idade legal, se alistou no exército britânico. Logo subiu de hierarquia e alcançou o posto de tenente-coronel. Agora, com 31 anos, recebera uma difícil missão e iria cumpri-la com louvor. Assim esperava.


A viagem fora tranquila, mas cansativa. Na parte da tarde teve autorização de descansar. Aceitou sem contestar. George e Elisabeth comandaram os trabalhadores naquela tarde. No dia seguinte John assumiria e estariam livres para outras tarefas.


A noite caiu fria. Na África é assim: durante o dia um calor insuportável e de noite um frio na mesma proporção. Com quase 50 º durante o dia, à noite pode chegar à temperatura negativas. John teve sorte. Nessa noite a temperatura chegou a 10 º. Agradável até.


Já passava das 3 da manhã quando o silêncio da noite foi irrompido por gritos desesperados. John acordou com o coração sobressaltado. Demorou a perceber o que ocorria. Dormiu menos de 5 horas e o cérebro não havia despertado ainda. Depois de alguns segundos conseguiu perceber que não estava num sonho. Se concentrou nos barulhos que o rodeavam e percebeu serem gritos histéricos.


— Acudam! Socorro! Preciso de ajuda aqui — gritava um homem.


— O animal foi por ali — gritava outro.


John saiu de sua tenda para ver o que estava acontecendo. Muitos homens se aglomeravam no centro do acampamento. Era uma confusão só.


— Ei, você. O que está acontecendo? — perguntou John segurando um dos nativos pelo braço.


— Dois animais pegaram um dos nossos e o arrastaram para os arbustos — explicou o nativo.


John não conseguiu controlar o alvoroço. Os nativos estavam muito agitados e apavorados. Aos poucos os ânimos foram serenando. Alguns homens ficaram acordados, armados, vigiando o acampamento. Pela manhã montariam equipe de buscas para procurar pelos animais que atacaram o acampamento.


* * *


Foi uma noite difícil. John mal conseguiu pregar o olho depois da confusão. Logo pela manhã foi se informar sobre o ocorrido. George já estava sabendo em detalhes e nervosamente andava de um lado para o outro.


— Bom dia! George — disse John.


— Espero que seja um bom dia após pegarmos aqueles predadores — disse George agitado. — Penso que você já está sabendo o que aconteceu essa noite...


— Sim, fui acordado pelos gritos. O acampamento estava um caos. Não pude fazer nada àquela hora da noite — desculpou-se John.


— Você precisa tomar algumas providências por aqui. Os trabalhadores estão muito assustados. Precisa garantir a segurança deles — George estava aflito.


— Vou fazer isso agora mesmo — garantiu John.


— John, eu já me adiantei e chamei o encarregado dos trabalhadores. Quero te apresentar Babu — George apontou-lhe.


John apertou a mão do encarregado.


— Olá Babu. Como vai? — John tentou ser amável.


— Babu conhece toda a região. Nasceu numa aldeia aqui próxima. Tem algumas ideias. Conte a John sobre o que me falou — disse George.


— Tenente John, andei pensando em tomarmos algumas providências básicas. Esse tipo de ataque não ocorre com frequência. É a primeira vez por aqui e penso que foi a última. Podemos fazer uma cerca de espinhos e mantermos as fogueiras acesas. Isso deve manter os animais afastados durante a noite.


— Você disse eles? É mais que um? Alguém viu? — questionava John afoito.


— Sim, Tenente. Um de meus homens viu dois deles arrastando Matunde para fora do acampamento — disse Babu.


— Babu, sou um caçador experiente. Poderíamos montar uma equipe de busca para acharmos os animais — disse John firmemente.


— Tenente, meus homens já acharam o corpo de Matunde. Ou melhor, o que sobrou dele. E sabemos que são leões. Fizemos uma busca hoje cedo por conta própria. Me desculpe não o ter consultado, mas eu precisava acalmá-los. Se eu tentasse os impedir seria pior — justificou-se Babu.


— Entendo Babu. Preciso me habituar ao costume de seu povo — disse John.


— Então o que acha John? — perguntou George.


— Sobre o quê?


— Sobre a ideia de Babu de fazermos a cerca de espinhos e mantermos o fogo acesso? — disse George com pouca paciência.


— Perfeito George. Vamos experimentar. Mas quero homens armados, vigiando por toda a noite, ok? — John foi incisivo.


— Claro que sim John — concordou George.


— Babu, pegue quantos homens precisar e providenciem a cerca de espinhos. Designe 5 ou 6 homens para vigiar o perímetro pela noite toda — ordenou John.


— Sim, Tenente John. Com licença, George. Vou providenciar.


Babu saiu dali apressado. Tinha muito trabalho pela frente.


— Acredita que a cerca e o fogo vão resolver, John?


— Pode ajudar, mas não vou arriscar. Preciso dos homens vigiando — John tinha o semblante preocupado.


— OK, John. Faça como achar melhor — George saiu.


* * *


As noites passaram sorrateiras. A cerca de espinhos ocupava toda a extensão do acampamento. Homens armados se revezavam por toda a noite. Várias fogueiras ficavam espalhadas entre as barracas e tendas. Nada mais aconteceu. Nenhum tumulto. Nenhum ataque. Nem sinal dos leões. John ainda desconfiava que os leões poderiam aparecer a qualquer momento. George, no entanto, decidiu que não era mais necessário que os homens ficassem de guarda. Estava perdendo cerca de 15 homens para a construção da ferrovia, visto que, os homens que vigiavam à noite, descansavam durante o dia. Isso iria atrasar a construção. John pediu mais um tempo.


Quase um mês tinha se passado e nada de ataques. John teve que ceder aos pedidos de George e dispensou a guarda, ou melhor, reduziu a apenas um homem. A cerca de espinhos e a fogueira foram mantidas.


No trigésimo primeiro dia, no silêncio da noite, dois leões se aproximaram do acampamento. Com muita habilidade saltaram a cerca de espinhos. Andando rápido e sem fazer barulho, logo estavam diante de uma das barracas. Enquanto um deles vigiava o outro entrou na barraca e mordeu o homem no pescoço, matando-o imediatamente. Arrastou o pobre homem para fora da barraca e os dois saíram dali em segundos. Saltaram a cerca carregando o homem. Nenhum outro trabalhador viu o que aconteceu. Nem o que vigiava notou o movimento.


Logo que amanheceu gritos ecoaram por todo o acampamento. Talib viu rastros de sangue saindo de uma das barracas. Dentro uma mancha enorme, avermelhada e nada de Yooku. Os gritos atraíram outros trabalhadores. Seguiram o rastro de sangue até a cerca. Ficaram imaginando como saíram por aquela cerca com o corpo de Yooku. Os homens se armaram de rifles e seguiram o rastro de sangue até um arbusto. Lá encontraram o corpo de Yooku. Todo ensanguentado. Morto.


— Onde está ele? — gritou John chegando até onde estava Yooku.


— Aqui Tenente. Aqui está Yooku — falou um dos homens.


John olhou para o homem morto. Checou as marcas que os leões deixaram no pobre homem.


— Carreguem-no para o acampamento. Vamos dar-lhe um funeral decente — ordenou John.


Naquela tarde os nativos fizeram o funeral de Yooku conforme a tradição local. John e George estiveram presente em sinal de respeito. Depois do funeral John ordenou que as vigias deveriam retornar em número de 15 como era no início. George pensou em contestar, mas se calou. Se reuniram na tenda de George para conversarem.


— Sinto que algo o está incomodando, John. O que é? Pode me dizer? — quase implorou George.


— George, realmente tem algo me incomodando. — Se aproximou de uma mesa onde ficavam algumas bebidas e se serviu de uma dose de uísque. Depois continuou. — Os leões que estão atacando nossos homens possuem um comportamento incomum. Normalmente eles só atacam para comer e quando os seres-humanos estão sozinhos. Nunca atacam pessoas reunidas em grupo.


— E o que isso quer dizer? O que há de errado com eles? — George estava confuso.


— Isso é o que eu gostaria de saber. O homem atacado essa noite estava todo dilacerado, é verdade. Mas os leões não o comeram. Parece que mataram o pobre homem apenas por diversão — disse John pensativo.


— Leões assassinos? Matam por puro prazer? Seria possível? — Muitas perguntas inundavam a mente de George.


— É muito estranho, mas parece que é exatamente isso que está acontecendo por aqui. — John tomou o resto do uísque escocês num gole só e finalizou. — A brincadeira acabou. Amanhã vou reunir alguns homens e caçar esses leões. Antes do anoitecer teremos esses animais mortos.


— Assim espero! — Sentenciou George.


Continua...



O ELEVADOR DE PANDORA

por Dos Reis

No ônibus dois homens discutiam: um dizia que o fogo havia sido roubado dos deuses pelo homem; o outro que ele tinha sido, na verdade, um presente dos deuses aos homens. E como não chegaram a um consenso cada um desceu no seu ponto e a viagem continuou.


― O mais importante é que todos somos criaturas de Deus ― disse um deles no meio da discussão.


Pandora não tinha a menor ideia do que eles estavam falando, nem do que esperar na primeira vez em que pisasse no trabalho. Ainda bem que, antes de sair de casa, tomou alguns ansiolíticos para manter um equilíbrio zen e esfriar os sentimentos mais naturais, que tornam a vida mais humana. Ainda assim, quando chegou pela manhã, experimentou a sensação que invade nossos sentidos mais primitivos: o medo do desconhecido. Suas mãos suavam frias e tudo se agigantou à sua frente. Hefesto, o Chefe da portaria, veio lhe recepcionar e ouviu-a com atenção e desvelo: não julgou seus embaraços, agiu com naturalidade e tranquilizou-a, como um verdadeiro pai. Uma lição que jamais esqueceria em toda sua vida. Depois o Chefe abriu a porta do elevador e lhe mostrou sua cadeira, ela se sentou, observou os botões e se debruçou sobre a conquista. Segundos depois levantou a cabeça e fixou o olhar na fila de pessoas que se amontoavam de pé diante dela e suavemente gritou.


― Sobe.


Ao apresentarem Pandora como a nova ascensorista, a copeira Atena fez questão de conhecê-la e lhe ensinar a tecer alguns pontos.


— É para afastar o estresse — justificou. — Sei que ficar presa naquela caixa não é brincadeira.


O zelador Apolo logo se intrometeu na conversa para dar seu palpite.


― Nada disso, vou lhe ensinar algumas canções que irá lhe ajudar a espantar os males.


Hermes, o porteiro, decidiu lhe ensinar como falar com os visitantes.


— O maior dom que você pode ter é o da paciência.


Semanas depois, em seu aniversário, Talia, funcionária da limpeza, lhe ofereceu um lindo colar de ouro com pingente de coração.


— Encontrei no corredor do edifício e ninguém nunca reclamou por ele. Aceite! Mas não conte para ninguém.


Sempre que podia, Afrodite, a ascensorista do elevador ao lado, puxava sua maleta e lhe trazia amostras de seus produtos de beleza: arranjava-lhe os cabelos, pintava-lhe suas unhas e a maquiava.


— Depois você me paga. Também vendo perfumes do Paraguai.


Não era a primeira vez que Hefesto tinha visto uma funcionária tão exemplar. Ele lembrava-se exatamente do momento em que viu Pandora pela primeira vez, na entrevista de emprego, e disse para si “É essa!”. Esses milagres enchiam o prédio com alegria e esperança. Era um sinal de que alguma coisa boa ainda era possível, tanto para ele, quanto para as pessoas que frequentavam aquele mundo.


Ainda assim, Hefesto se considerava ciente das pessoas que saiam daquele elevador. Não negava as ambições e crueldades ali presentes e que daquela caixa sempre escapavam a Senilidade, a Insanidade, a Doença, a Inveja, a Paixão, o Vício, a Praga, a Fome e todos os outros males, que se espalharam pelo mundo e tornam a existência dos homens tão miserável.


― Há sempre algo que nos ajuda a olhar para frente ― repetia Pandora para os amigos.


Também pudera! Presa naquela caixa não lhe restava outra visão.


FIM




NOSSOS COLUNISTAS


Luiz Primati, Alessandra Valle e Ricardo dos Reis.

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1 comentário


sidneicapella
sidneicapella
24 de jun. de 2022

Alessandra, final triste do seu conto! Despedidas é sempre difícil, principalmente de pessoas que amamos. Luiz, estou curioso para ler o próximo capítulo! Será que vão encontrar os leões? Ricardo, o seu conto traz ensinamentos, mostrando o que, ocorre no dia a dia na vida dos seres humanos. Cruzamos o caminho de pessoas e vice-versa. O melhor caminho é o ensinamento do Hermes a paciência. Parabéns Contistas!

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