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Foto do escritorLuiz Primati

CRIATURAS NOTÍVAGA(S) Nº 6 — 20/04/2022

Mais um conto da série, escrito por Carlos Palmito. Que outras criaturas a noite esconde? Serão seres humanos ou fantásticos? Algum personagem conhecido ou novidade para os leitores? Se quiser descobrir, terá que ler até o final e garanto que poderá se surpreender a cada mudança de parágrafo.


Leia, Reflita, Comente!


https://www.pexels.com/pt-br/foto/foto-de-veiculos-na-estrada-perto-de-edificios-2467558/


NA TOCA DE ALICE


por Carlos Palmito


— Palpita-me que isto venha a ser uma noite bem interessante! — murmurou ela para si mesma, com os olhos fixos no cacifo número quarenta e um.


Perscrutou atentamente o ambiente da estação de autocarros, estava quase deserta a estas horas da noite, excetuando duas mulheres que tagarelavam animadamente junto à entrada, nada que representasse perigo imediato.


Do lado de fora, o vento corria desenfreado a par e passo com um nevoeiro que começou a surgir, Éolo uivava como um raivoso cão demoníaco em busca de vítimas, a caça do guardião dos infernos protegido pela primordial Áclis.


— Deixa cá ver — sussurrou de novo. — Se bem entendi a charada, só pode ser este o local.

Passou com os dedos sobre o teclado numérico. No ecrã piscava intermitentemente o cursor onde teria que colocar o primeiro dos quatro dígitos para destrancar o cofre.


— Três vezes os círculos de Dante — pressionou nervosamente os números dois e sete. — E o dobro dos pecados mortais — apertou os algarismos um e quatro. — Será assim tão fácil?


Ouviu-se quase impercetivelmente o som da gaveta a destrancar, Andreia sorriu. Afinal, sempre foi fácil, abriu a portinhola e removeu do seu interior o único objeto que lá se encontrava; balançou-o em frente aos seus olhos verdes, uma chave com o identificador número trezentos e três.


— Que raios? — franziu o sobrolho, enquanto tentava perceber qual fechadura seria aberta por aquela coisa.


Guardou-a no bolso, fechou a portinha e saiu da rodoviária em direção à sua carruagem privada.


O nevoeiro sentia-se cada vez mais intenso, uma humidade quase palpável, enquanto que o vento rugia ferozmente entre os edifícios, derrubando caixotes aquando da sua passagem, elevando num rodopio interminável os desperdícios humanos.


Sentou-se no carro, acendeu os faróis que iluminaram a parede lateral da estação, a chave veio-lhe ao pensamento, enquanto o seu olhar esmeralda contemplava, por entre o misticismo da luz a romper o nevoeiro, um dragão azul em formato de “R” tatuado na pele descascada deste imponente edifício.


Ao seu nariz veio-lhe o odor perfumado do papel timbrado que estava menosprezado no assento do passageiro.


— Merda! — riu a bandeiras despregadas, enquanto mirava o carimbo no papel, esquecendo nesse mesmo instante dragões, cães tempestuosos e fantasmas desprezados. — És daqui, não és, chavinha?


Ligou a ignição, arrancando logo de seguida, perseguida por um qualquer deus ventoso, uma fúria indomável na cidade pecaminosa, enquanto os faróis incendiavam a neblina, rasgando na sua passagem o ventre cadavérico de Áclis.


Eram exatamente onze da noite quando estacionou no pantanoso parque de terra batida, que se situava nas traseiras do Hotel Centurino, abalou, deixando o carro protegido apenas pelas filhas de Eleinomeu.


Deslocou-se lentamente, evitando as poças de água maiores. Havia chovido durante o dia, isto, se na cidade da noite imperecível existir espaço para Hemera, contudo era certo que os anjos tinham mijado anteriormente sobre esta meretriz embelezada a néon e betão.


Já debaixo das ombreiras das portas, contemplou o exterior por uma última vez, antes de transpor a barreira fictícia que separava a noite de um dia criado na artificialidade de luzes falsas em honra a deuses em desuso.


Da cerrada neblina, sobravam apenas farrapos, espíritos a deambular no velho mundo. Virou-lhes as costas sem ao menos se despedir.


Os saltos dos sapatos negros ressoavam no hall de entrada, enquanto caminhava na direção do elevador, sempre acompanhada pelo olhar atento do rececionista, um homem de meia-idade, careca.


Já no elevador, pressionou o número três. As portas fecharam-se, e ele iniciou a sua ascensão, acompanhado por uma música cuja parte vocal já mal se percebia, devido ao uso e abuso a que foi submetida desde os inícios dos tempos, e mais tempos viriam até que a voz para sempre se calasse.


Finalmente a subida terminou, abriram-se as portas como num grito silencioso de uma deidade desprovida de poderes.


Saiu para o corredor, olhou para os números na porta à sua frente, trezentos e um, virou à esquerda e caminhou até ficar de frente para a porta identificada na chave que tirou do seu bolso.


Enfiou-a na fechadura, cerrou os olhos em expectativa, inspirou o ar desprovido de temperaturas e odor, como se o mundo estivesse estagnado; rodou-a no sentido horário, não lhe sentindo qualquer resistência, o silêncio foi interrompido pelo som metálico das engrenagens a locomoverem-se e destrancar a entrada da toca do coelho de Alice (Cortem-lhes a cabeça!).


O interior do quarto estava na penumbra, sendo que a única luz que entrava, era a de uma janela aberta e várias velas acesas.


Cheirava a incenso, tabaco, erva e rosas, uma amálgama perfeita de odores capazes de provocar até a mais frígida das criaturas.


Sorriu e fechou a porta nas suas costas, ia para dar o primeiro passo quando sentiu algo metálico encostado na têmpora esquerda.


— Quietinha aí! — esta voz elevou-se para lá do vento que teimava ainda a rosnar no exterior. — Encosta-te à parede, de pernas abertas e braços no ar, tenho que ver se trazes escuta contigo.


Andreia obedeceu, não ousaria desacatar a ordem, tendo o que suspeitava ser o cano de uma arma, encostado na cabeça.


Sentiu uma mão a percorrer-lhe o corpo, penetrar-lhe no inviolável espaço para lá da roupa, nas axilas, passar pelos seios onde se demorou, descer pelo abdómen, coxas, descender quase até ao pé, para depois ascender pela outra perna, até aos botões das suas calças, onde se deteve.


Experienciou a pressão dos dedos no sexo, e viu o vulto arremessar o objeto que tinha para cima da cama.


Baixou os braços e riu.


— Porra, Filipa, apontaste-me uma arma? — indagou.


A imagem envolta em sombras, pegou-lhe nas mãos e subiu-as de novo, encostando-as ao mosaico da parede, aproximou os lábios lentamente dos dela, que lambeu com gula.


— Aquilo? — gracejou. — Um isqueiro da loja dos chineses, foi apenas para te acender.


Andreia encostou os lábios aos da loira de caracóis, beijando-os, trespassando a fronteira com a língua que se deleitou com a dela, saliva em saliva, línguas a batalharem não pela desunião e afastamento, mas sim pela eternidade de um momento de desejo puro, tesão no máximo valor da palavra.


— E acendeste, queres sentir? — puxou-lhe a mão para dentro das suas calças, enfiou-a lá, permitindo-a a vasculhar o seu interior. — Sentes?


Filipa acariciou-lhe a vagina por cima da roupa interior, encostou-lhe os lábios ao pescoço que chupou, deixando-o marcado, Andreia gemeu.


— Estás a arder — retirou a mão de dentro das calças e levou-a perto do nariz, sentindo-lhe o aroma. — Sempre adorei o teu perfume corporal — levou os dedos aos lábios e sugou-os.


Puxou-a em direção à cama, onde se sentou na beirinha, Andreia sentou-se no seu colo, fitando-a diretamente nos seus olhos castanhos.


— Nós não somos normais, pois não? — perguntou-lhe. — Este jogo de espiãs acende-me sempre, nem imaginas o desejo que me provoca.


Empurrou-a na cama, forçando-a a deitar-se. Segurou o fecho do casaco com os dentes e abriu-o assim, com a boca lasciva, seguido pelas mãos que lhe percorriam o corpo, pressionavam o peito, sentia-lhe os mamilos duros, ouvia-lhe a respiração pausada e o corpo a contorcer.


Aberto o casaco, voltou acima, um novo beijo, prolongado, mordiscou-lhe o lábio inferior, ergueu o corpo sobre ela, fitando-lhe o rosto, a expressão lá contida, os olhos em súplica; meteu os dedos entre os botões da camisa verde, puxando repentinamente para os lados, despedaçando cada casa, cada botão, saltaram em direção ao desconhecido, como projéteis disparados de uma arma celestial.


Filipa arqueou as costas, subiu o corpo, entrelaçando os braços sobre o pescoço da sua companheira, enquanto cravava os dentes no seu próprio lábio inferior.


Andreia sorriu, numa mistura de desejo e malícia, empurrando-a de volta ao colchão, enquanto despia a sua própria blusa, que arremessou em direção à cadeira de canto.

Deitou-se novamente sobre a dona de caracóis loiros, ambas em tronco nu, sem amarras nem barreiras, libertas das fronteiras banais do vulgar.


Roçou o seu peito no dela, sentiu-lhe de novo o bico, duro, quase pedra, a friccionar o seu, enquanto lhe lambia o pescoço.


Ouvia-lhe neste momento a respiração quase em descompasso, enquanto foi descendo os lábios, os próprios seios, e as mãos. Chupou-lhe a teta, lambeu a aréola e mordiscou o mamilo, puxou-o com os dentes, proporcionando-lhe um misto de dor e prazer.


Filipa soltou um grito prazeroso, sobrepondo-se ao rosnar do vento do lado de fora desta deturpação da toca de Alice, agarrou Andreia pelos cabelos, e evolveu-lhe a cintura com as pernas, puxando-a para si.


A divindade de olhar esmeralda parou, mirando-a em reprovação, pegou-lhe nas mãos e elevou-lhas acima da cabeça, enrolando-as com os restos mortais de algo que um dia tinha sido uma camisa.


— Hoje quem manda sou eu, docinho — sussurrou-lhe ao ouvido, mordendo-lhe o lóbulo. — Ninguém te mandou apontares-me uma arma.


Sentindo-se dominada na totalidade, a mortal de olhos acastanhados cerrou-os, para se focar no prazer. Sentia-se totalmente molhada por baixo das calças, um desejo incomensurável, um arder e pulsar incontrolável.


Andreia ficou estática, por cima dela, deixando a escuridão do seu cabelo roçar-lhe levemente os seios, o abdómen, enquanto lhe abria as calças.


— Abre os olhos — exigiu-lhe. — Se queres que continue, vais ter que me olhar bem no fundo da minha alma, e eu quero ver a tua a implorar.


Puxou as calças devagar, lentamente, tocando-lhe suavemente com os dedos na pele fervente, sentindo-a a gemer e contorcer-se, sempre com o olhar fixo no de Andreia, sentiu-a a arquear a cintura numa súplica.


Aqui, Andreia enfiou as mãos por dentro da tanga da amante, e na mesma velocidade foi puxando, desta vez acompanhada pelos lábios quase colados na pele, mas sem a tocar, até lhe deixar a roupa interior cair em esquecimento na imaculidade da carpete azul, deixando o corpo de Filipa visível na totalidade, a donzela em apuros para uma loba no cio.


Deixou cair ao chão os restos da sua própria roupa, agora eram dois animais numa cama, volúpia, desejo, tesão, sexo pelo simples prazer do ato carnal.


A deidade de cabelos negros, voltou à cama, deu uma dentada forte no pescoço de Filipa, que já estava em êxtase. Qualquer contacto a fazia gemer, enquanto que com uma mão retirava da fenda entre o colchão e a cabeceira a pistola que jazia lá, como um esquecido deus dos primórdios do universo.


Meteu-a em cima da almofada, libertando as mãos, e voltou a descer com os lábios, passando pelo peito num sopro quente, em direção ao baixo ventre.


Segurou-lhe os poucos pelos púbicos loiros que ali se encontravam com os lábios, e puxou-os suavemente, largando-os de seguida.


— Diz que me queres — intimou. — Diz que me desejas como nunca desejaste nada nem ninguém.


Filipa arqueou a cintura em direção ao rosto de Andreia, numa imploração corporal. Ardia como jamais houvera ardido até ali, nem com homens, nem com mulheres, sentia-se desfazer em desejo sexual, queria sentir-lhe a língua lá, ser penetrada por ela, sentir a saliva misturar-se com os seus fluidos.


— Quero-te — conseguiu responder por entre a sua respiração acelerada. — Quero-te toda, sou tua, faz de mim o que quiseres, marca-me como sendo o teu próprio animal, morde-me, imploro-te.


Andreia sorriu, e começou a percorrer o corpo da amante com os dedos, devagar, lábios… queixo, pescoço que apertou delicadamente, sentindo o corpo dela contorcer-se em tesão, passou entre os peitos, umbigo e vagina, massajou-a, beliscou-lhe suavemente o clitóris e voltou a massajar em movimentos circulares.


Tudo isto com os olhos fixos na expressão dela, e como se deleitava com o que via, a sensualidade da sua deusa, transformada em submissa, a tresandar a desejo.


Baixou então a cabeça em direção à perdição, deixou os lábios por momentos separados do clitóris dela a escassos milímetros, concedendo-lhe a humidade da sua respiração, o quente e pausado dela, sentindo-lhe o aroma que adorava.


E sugou-o, não queria adiar mais o momento, Filipa gritou, o gozo ardente que sentiu no ato foi algo digno de ficar imortalizado nos cadernos dos deuses do prazer. Andreia mordiscou-lhe suavemente o clitóris, enquanto a penetrava com os dedos, devagar, com tempo numa toca sem tempos.


Filipa sentiu-lhe a língua aveludada percorrer a vagina na totalidade, e gemeu como nunca, quando parecia impossível existir mais prazer, sentia-lhe os dedos mudarem posição, aumentar o ritmo, enquanto a língua se ocupava do exterior, gozou ali, assim, e já não a primeira vez nessa noite.


Lá fora, a percorrerem todos os recantos da cidade, para lá do quarto, podiam andar demónios misturados com anjos e fadas, mas a perdição, essa encontrava-se apenas ali, naquele quarto, na cama encharcada em suor e gozo.


Andreia parou quando sentiu o corpo da semideusa de caracóis loiros contorcer-se uma vez mais, e gemer mais alto ainda.


Levantou-se e pegou num cachecol cinza misturado com branco. Olhou em interrogação os olhos castanhos que brilhavam em puro deleite, esta assentiu.


Enrolou-lhe o cachecol com duas voltas em sobre o pescoço pegou-lhe nas pontas, e regressou para baixo, envolvendo-lhe novamente o clitóris e os lábios vaginais com a sua língua aveludada, enquanto ia puxando as pontas do cachecol devagar.


Mordiscou-lhe de novo o clitóris, chupou-lhe os lábios, e penetrou-a com a língua, sentiu-lhe as coxas apertarem a sua cabeça, gozar uma vez mais, prazer puro, o deleite inigualável, sentiu-a então afrouxar a pressão, até se imobilizar.


Largou o cachecol, ergueu a cabeça, a sua semideusa estava inerte em cima do colchão.


Não se notava o peito a subir e descer com a respiração. Todos os músculos do corpo pareciam ter sofrido um apagão, começou a entrar em pânico.


— Filipa? — inquiriu, sem obter nenhuma resposta. — Filipa, não brinques, já fizemos isto antes.


A reação do corpo na cama foi nula.




AUTOR

Carlos Palmito

67 visualizações8 comentários

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8 comentários


dittrich.eclair
dittrich.eclair
21 de abr. de 2022

É, então..... Só uma pergunta:

-alguém sabe me dizer onde foram parar o caçador e a vovó da chapeuzinho🤔🤔🤭🙈🤤🤤

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Stella Gaspar
Stella Gaspar
21 de abr. de 2022

Carlos, nada de pecado e nem de pecador encontrei em seu texto. Você é mestre em detalhes e em deixar um sinal verde, para que possamos continuar com as nossas interpretações. Um texto repleto de sensações! 😍

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Luiz Primati
Luiz Primati
20 de abr. de 2022

Carlos está cheio de mistérios, explorando a noite em busca de criaturas distintas, interessantes. Acreditem! Todas essas criaturas existem, seja de forma consciente ou inconsciente.

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joanapereira.ft
joanapereira.ft
20 de abr. de 2022

Ohhh Carlos! Estas Criaturas Notívagas andam loucas! Muito muito erótico! Parabéns

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sidneicapella
sidneicapella
20 de abr. de 2022

Filipa morreu de tanto tesão? Carlos, Show de Bola a sua escrita!

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sidneicapella
sidneicapella
20 de abr. de 2022
Respondendo a

Caraca Mano!

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