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Foto do escritorLuiz Primati

ESPECIAL HALLOWEEN — 02/11/2023


Imagem gerada com IA MidJourney

 

AUTORA ALESSANDRA VALLE

IG: @alessandravalle_escritora


Alessandra Valle é escritora para infância e teve seu primeiro livro publicado em 2021 - A MENINA BEL E O GATO GRATO - o qual teve mais de 200 downloads e 400 livros físicos distribuídos pelo Brasil. Com foco no autoconhecimento, a escritora busca em suas histórias a identificação dos personagens com os leitores e os leva a refletir sobre suas condutas visando o despertar de virtudes na consciência.

 

MORTO OU VIVO?

Parte 2


Ao abrir o portão principal, acessei um corredor largo, com diversas salas de portas fechadas.


Ouvi sons de pessoas falando e ao olhar para o interior de uma das salas vi um professor de pé, ministrando aula a algumas dezenas de alunos.


Antes que eu prosseguisse, o sinal tocou e os alunos começaram a se deslocar pelo corredor.


Pessoas simpáticas, me cumprimentaram, dando-me boas-vindas.


Eu não estava entendendo, até que senti as mãos de uma pessoa sobre meus ombros.


Para minha surpresa era meu avô, mas tinha aparência mais jovem e feliz.


— Vô, o que estamos fazendo aqui? — perguntei atordoado.


— Estamos aqui para estudar — respondeu meu avô com sorriso.


— Mas o senhor está morto, vô. Para quê estudar? — questionei apresentando total frustração de imaginar que teria que estudar até após morto.


— Eu não estou morto, meu neto — respondeu-me, direcionando os passos pelo corredor adentro da escola.


— Estou vivo e você está morto. Como poderei ficar aqui com o senhor, vovô?


— Você ainda não percebeu, querido? Estamos vivos e estamos na mesma dimensão — falou o velhote com sorriso.


Neste instante estava muito confuso. Feliz, por reencontrar meu avô, mas triste por pensar que havia morrido também. Feliz por deixar a celebração do dia dos mortos, mas triste por chegar à pátria espiritual perceber que precisarei continuar estudando.


Por fim, não sabia se queria estar vivo ou morto naquela situação. Foi então que parei a andança pelos corredores da escola e falei com sinceridade:


— Vô, você sabe que estou muito feliz de te ver, não sabe? Pois, eu lhe amo e nosso reencontro minimiza a saudade que sinto de ti, mas a verdade é que não quero morrer e não quero ficar aqui.


O velhinho querido me olhava com ternura e percebendo que eu não estava preparado para compreender a situação, me aliviou explicando:


— Meu neto amado, você não vai permanecer aqui. Pelo menos não por hora. Existem experiências a serem vividas por você enquanto encarnado. Agora guarde em seu pensamento que a morte não existe e que há vida depois do desenlace da alma.


O abraço que recebi de meu avô me fez despertar na cama do meu quarto e logo decidi voltar à sala onde todos os meus amores estavam, encarnados e desencarnados, porém vivos, bem vivos.



 

AUTOR LUIZ PRIMATI


Luiz Primati é escritor de vários gêneros literários, no entanto, seu primeiro livro foi infantil: "REVOLUÇÃO NA MATA", publicado pela Amazon/2018. Depois escreveu romances, crônicas e contos. Hoje é editor na Valleti Books e retorna para o tema da infância com histórias para crianças de 3 a 6 anos e assim as mães terão novas histórias para ler para seus filhos.

 

POMBOS

PARTE 4

Onze e trinta marcava meu relógio de pulso. Desta vez tomei a precaução de vir com o Felipe e não mais esperá-lo. O equipamento que trazíamos era digno de um cineasta. Meu plano era fotografar algumas coisas que pudessem provar que Dona Helvina praticava bruxaria.

Felipe parecia ter perdido um pouco dormido que o acompanhava da última vez.

Quando saímos do escritório, deixamos propositadamente o portão do quintal destrancar. Assim podemos entrar sem que ninguém nos visse. Acabamos de ganhar o quintal.

— Como pesa esse equipamento. — Comentava Felipe.

— É a bateria que pesa.

— Não tinha nada mais… — O tripé escapa-lhe ao controle, caindo ruidosamente no chão, quebrando o silêncio da noite.

— Ei, cuidado. Quer estragar tudo?

— Desculpe.

— Vá com cuidado. Esse equipamento é caro.

Subimos a rampa que ligava o portão até à porta dos fundos do escritório. A noite estava aparentemente calma, não fosse por algumas nuvens plúmbeas que começavam a transformar o céu num tom pardacento, anunciando uma provável tempestade.

— Vamos montar o tripé num ângulo que dê para focalizar a porta da cozinha até o viveiro. OK?

— Ok!

— Faça isso enquanto encaixo objetiva e ligo a bateria. Felipe fazia tudo mecanicamente, confiando em mim. Tudo para que não fôssemos descobertos e sofresse uma provável punição.

O equipamento eu herdara de meu pai, que morrera na queda de um avião. Deixou de equipamentos especiais para fotografar, entre eles uma teleobjetiva de longo alcance.

— Pronto Leonardo. O tripé está montado. 

— Ótimo! Agora é só acoplar a máquina no tripé.

Encaixei-a, não apertando a rosca até o fim, deixando-a livre para fazer o movimento de rotação.

— Posso fazer uma pergunta, Leonardo? Como você tirará as fotos sem que Dona Helvina perceba a luz do flash? 

— Você tem razão. Não podemos.

Tinha outra ideia em mente. Não podia contar ao Felipe.

— Quer dizer que carreguei a bateria à toa?

— Eu não pensara.

— E agora?

— Espere um pouco. Preciso pensar.

O problema era a falta de iluminação. As nuvens escondiam o brilho da lua. Existe um filme infravermelho que só capta o calor. Mediante uma foto não haveria a mínima chance de reconhecer dona Helvina, precisava de outro meio. Outro filme.

— Felipe, onde você colocou a caixa de filmes? Uma verde.

Revirou as coisas.

— Aqui está. — Entregou-me.

Procurei por um filme que necessitasse pouca luz. Por que não pensei nisso antes? Revirei, revirei até que encontrei um filme de 1600 asas, alta sensibilidade.

— Resolvemos o problema.

— O que a isso?

Um filme ultrassensível. Próprio para tempo nublado ou lugares com pouca luz.

Felipe colocou o filme na máquina. O vulto da velha Helvina circulava pela cozinha. Precisava atraí-la para fora da casa. Além de tudo, sem uma foto que comprovasse que a velha era uma praticante de rituais satânicos, qualquer esforço seria em vão.

No fundo da minha mente, eu tencionava pular o muro e fotografar as coisas de perto. De cima do muro nunca conseguia uma foto satisfatória. O que seria mais certo, era conseguir entrar no viveiro e fotografar os pombos mortos apodrecendo. Um órgão de saúde pública me apoiaria. Vender salgadinhos com recheio estragado, deveria ser considerado crime.

Felipe seguia ajustando objetiva. Não suspeitava do que eu planejava. Um clarão rasgou o céu. Várias nuvens se chocavam no horizonte, produzindo raios que iluminavam a noite negra.

O tempo passava. A velha não saía. Pensei numa ideia. Iria pular o muro. Peguei uma extensão 15 m de fio. Liguei os polos da bateria. Na outra ponta liguei um flash.

Felipe olhava tudo intrigado.

— Você não disse que não ia usar o flash?

— E não vou.

Achou estranho. Não retrucou.

— Onde estão as lâmpadas de 3 V?

Deu de ombros.

— Revirei as coisas até achar. Coloquei cinco no flash.

— Você esqueceu Leonardo? Estas lâmpadas não aguentarão a bateria. Vão estourar.

— Eu sei! — Era exatamente isso que precisava.

O tempo começou a piorar. Não havia mais como esperar. Era preciso agir.

— Bem, Felipe, prepare-se para manejar esta câmera. Procure não falhar.

— Já sabia! Você sempre diz isso.

Procurei pelo balde que utilizara da outra vez para pular o muro. Coloquei-o perto do muro.

— O que vai fazer? — Muito preocupado, Felipe arregalava os olhos.

— O que você acha? Pularei o muro.

— Espere um pouco. Não foi isso que você falou.

— Se contasse a verdade, sei que não viria. E tem mais, a chuva desabará em breve. Se não descer para fotografar, não conseguiremos provar nada. 

— Sinto muito, mas desta vez vou cair fora.

— OK! Você é quem sabe.

Estava tão obcecado pelas fotos que nem me importava com o fato de ir, sim, retaguarda. Transpassei a alça tiracolo de minha câmera portátil entre minha cabeça e o braço direito.

Subi no muro pronto para pular. Felipe olhava-me. Continuei decidido a ir em frente. Felipe rodeou, rodeou até que voltou.

— Está bem. Já que começamos isso juntos, vamos até o fim.

— É assim que se fala amigo.

Apertou minha mão.

— Novamente, boa sorte.

Sorri em agradecimento. Novos relâmpagos riscavam o céu. Estava na hora. O sino da igreja começava a badalar meia-noite.

— Felipe, eu vou pular. Quando eu pedir, você me joga essa extensão com o flash, OK?

— OK!

Saltei. A câmera bateu no meu peito. Fiquei com medo de tê-la danificado. Parecia em ordem.

— Joga!

Agarrei o flash, deixando o fio da extensão esticar até mim. Levei a extensão até o viveiro. Com um pouco de sorte passei o flash por um dos buracos do alambrado. Lancei-o até o centro do viveiro. Alguns pombos que estavam presos, assustaram quando o flash bateu no chão. O cheiro forte dos pombos mortos, infestava o ar.

O flash continha as cinco lâmpadas que eu colocara. Torci para que nenhuma delas tivesse soltado com a queda.

Fiquei com a ponta do fio onde estava o disparador do flash. Me acomodei atrás de um tronco de árvore que havia no quintal.

O vulto da velha Helvina andava de um lado para o outro na cozinha. Podia vê-la de onde estava.

Por sorte não tinha me ouvido pular no quintal. Olhei para cima do muro e Felipe estava a postos. O tempo piorava mais e mais, começando um leve vento a importunar. Tinha que ser agora.

Acionei o interruptor do flash. A primeira lâmpada acendeu estourando logo em seguida, provocando uma reação em cadeia, simulando uma metralhadora. Os estouros seguintes desencadearam um frenesi entre os pombos. Começou um tropé. O vulto da velha dirigia-se para porta da cozinha. Destravou-a. 

A velha Helvina surge na porta da cozinha munida de uma faca.

— Seus pombos malditos. Não conseguem manter-se em silêncio?

Praguejando veio a velha em direção do viveiro.

— Vou silenciá-los já. E será para sempre.

Atrás do tronco, aprontava minha câmera para fazer algumas fotos. Olhei para o muro e Felipe olhava a cena assustado. Fiz sinal para fotografar. Entendeu e começou a disparar as fotos.

A velha Helvina abriu o viveiro balbuciando o tempo todo.

— Seus demoninhos, vou acabar com vocês.

Sai de trás do tronco.

A velha ganhou o centro do viveiro. Cheguei até a porta e antes que ela percebesse, bati várias fotos dos pombos mortos e ela com uma faca na mão.

Virou-se furiosa ao perceber que havia alguém ali.

— Quem é você? — Olhou-me com ódio nos olhos.

Os pombos se debatiam no viveiro.

— Invasor de propriedades! — Por um momento pareceu me reconhecer. — Sei quem é e o que quer. — Dê-me essa câmera.

Deu alguns passos em minha direção. Felipe sobre o muro entrou em pânico.

— Fuja Leonardo!

A velha se distraiu com os berros. Num relance, bati o flash diretamente nos olhos da velha. Cegou-a. Era minha chance para fugir.

Corri até o muro. Esquecera que não era fácil subir.

Os pombos se debatiam violentamente no viveiro, já arrebentando a tela que os prendia.

Uma ventania enorme começou à nossa volta, levantando poeira.

Diante do muro me senti pequeno e indefeso.

Felipe não sabia o que fazer, nem eu.

A velha recobrava a visão e caminhava em minha direção. Os pombos continuavam se debatendo no viveiro.

— O que faço? — Berrava Felipe desesperado.

O vento derrubou o tripé.

— Não sei, me ajude, ou pelo menos fotografe tudo.

Se morresse, seria por uma causa justa, melhor seria se fosse documentado com fotos.

— Não dá. A câmera tombou com o vento.

A velha chegava mais perto. Corri para o outro lado.

Continua...

 

AUTORA ARLÉTE CREAZZO


ARLÉTE CREAZZO (1965), nasceu e cresceu em Jundiaí, interior de São Paulo, onde reside até hoje. Formou-se no antigo Magistério, tornando-se professora primária. Sempre participou de eventos ligados à arte. Na década de 80 fez parte do grupo TER – Teatro Estudantil Rosa, por 5 anos. Também na década de 80, participou do coral Som e Arte por 4 anos. Sempre gostou de escrever, limitando-se às redações escolares na época estudantil. No professorado, costumava escrever os textos de quase todos, para o jornal da escola. Divide seu tempo entre ser mãe, esposa, avó, a empresa de móveis onde trabalha com o marido, o curso de teatro da Práxis - Religarte, e a paixão pela escrita. Gosta de escrever poemas também, mas crônicas têm sido sua atividade principal, onde são publicadas todo domingo, no grupo “Você é o que Escreve”. Escrever sempre foi um hobby, mas tem o sonho de publicar um livro, adulto ou infantil.

 

UMA ROSA BRANCA


Lurdes era uma senhora serena, extremamente tranquila em seus atos e palavras.

Seu marido Antônio, já era mais acalorado, com gestos típicos de um italiano nato e palavras tão quentes quantos seus gestos, mas com um coração de menino.

Eram muito felizes no casamento.

Se conheceram por conta do serviço de Antônio, que era bancário. Lurdes terminara o magistério e já lecionava.

Era ela quem cuidava dos pagamentos da casa, já que seus pais idosos não entendiam muito de finanças e procedimentos bancários.

Então Lurdes, ao menos quatro vezes por mês, frequentava a agência bancária na qual Antônio era caixa.

Por conta do cargo que ele tinha no banco, se viam todas as vezes que ela aparecia para pagar suas contas.

As conversas sempre cordiais se limitavam a bom dia ou boa tarde, como vai você e estou bem obrigada. Até que um dia Antônio resolveu tomar a iniciativa e convidá-la para um cinema no sábado à tarde.

Ela prontamente aceitou, já avisando que teria que levar sua irmã caçula junto, pois seus pais não permitiriam que ela fosse sozinha, afinal ele era praticamente um desconhecido.

Antônio como um cavalheiro, disse que passaria em sua casa para pegá-la e aproveitaria para se apresentar aos seus pais.

No horário marcado do sábado, ele apareceu pontualmente.

Foi convidado a entrar, sentou-se em uma das pontas do sofá e os pais de Lurdes sentarem-se na parte restante. Lurdes e sua irmã estavam uma em cada poltrona da sala.

Antônio se apresentou, dizendo que era caixa no banco e que havia se encantado com Lurdes e seu sorriso doce. Conversou um pouco com seus pais e levantando-se pediu licença para saírem pois perderiam a sessão. O pai de Lurdes disse-lhe que ela deveria estar em casa até às 20 h, o qual de pronto foi confirmado por Antônio.

Daquele dia em diante, foram algumas sessões de cinema, passeios no parque e Antônio levou Lurdes para conhecer sua família.

Após um ano de cinemas, parques e almoços, Lurdes foi autorizada a sair para esses passeios apenas com Antônio, sem que sua irmã caçula precisasse acompanhá-los. Mas sempre com horário restrito para sua volta a casa.

Dois anos se passaram desde o primeiro cinema e Antônio então resolveu pedi-la em casamento.

Como sempre foi um cavalheiro, Antônio foi conversar com os pais de Lurdes para fazer o pedido oficial.

Tudo acertado, Lurdes e Antônio foram escolher uma casinha para morarem. No início pagariam um pequeno aluguel, mas já tinham intenção de ter sua própria casa.

Mobiliaram com o que compravam e com presentes que lhes eram dados.

Seis meses após o pedido, casaram-se na pequena igreja de Santa Terezinha, a qual Lurdes era devota.

O casal era só felicidade. Tudo na vida à dois caminhava perfeitamente.

Um ano após o casamento, tiveram a felicidade de terem sua primeira filha.

Após cinco anos de casados, já estavam com três filhas e sua casinha própria.

Nesta época Tereza a primogênita estava com quatro anos, seguida de Inês com dois anos e meio e Helena de seis meses.

Tudo caminhava em perfeita harmonia para família.

Antônio foi promovido à gerente no banco e Lurdes continuava a lecionar, já que sua mãe lhe ajudava com as três meninas.

Lurdes as ensinava sobre religião, já que sempre foi extremamente católica, diferente de Antônio que acreditava mais em números e coisas palpáveis.

Mas com o passar do tempo, Antônio passou a perceber que sempre que algo não caminhava muito bem em casa, fosse financeiro ou saúde, Lurdes levava uma rosa branca que colocava aos pés de Santa Terezinha na igreja onde se casaram, ajoelhando-se e orando.

No começo ele acreditava ser pura coincidência, já que quando ela fazia isso, os problemas se resolviam. Mas com o passar do tempo, Antônio passou a fazer companhia para a esposa em suas orações.

A família passou a frequentar a igreja todos os domingos.

O tempo foi passando e as três pequenas se tornaram lindas mulheres.

Com as meninas já adultas, Lurdes e Antônio já não tinham mais a presença dos pais em suas vidas, mas Lurdes ainda contava com sua irmã caçula, a qual estava sempre presente em momentos importantes.

As duas filhas mais velhas, Tereza e Inês se tornaram professora como a mãe. Helena a caçula, seguiu carreira no banco como o pai.

No casamento das três filhas, Lurdes sempre pedia para que elas fizessem um buquê que tivesse rosas brancas, já que sempre foi devota de Santa Terezinha e as rosas significavam a intercessão da Santa para àqueles que pediam em oração.

Com o passar do tempo, a família foi aumentando já que as filhas do casal também tiveram seus filhos.

Tereza teve dois meninos e uma menina, Inês três meninas e um menino e Helena um casal de filhos.

A família costumava sempre se reunir em todas as celebrações: aniversários, Páscoa, Natal, Ano Novo, juntamente com Berenice, a irmã caçula de Lurdes, seus dois filhos e seu marido Afonso.

Estavam sempre unidos em qualquer evento.

Com os netos crescendo, passaram a ter mais eventos, já que havia apresentações de balé, judô, futebol, teatro e tudo o mais que as crianças poderiam participar.

As meninas crescendo, passaram a ter também os famosos bailes de debutantes.

Aos poucos os netos passaram a não frequentar as reuniões de família com tanta frequência, já que a maioria já não morava na mesma cidade por conta dos cursos superiores escolhidos.

Apenas as duas meninas do meio de Inês, permaneciam morando na mesma cidade dos pais e avós.

Resolveram fazer cursos ficando próximas à família.

Por conta disso Gabriela e Juliana se tornaram bem próximas aos avós, já que os viam com mais frequência.

Mas embora os outros netos não morassem na mesma cidade, sempre que havia um feriado, lá estavam eles em reunião familiar.

Lurdes e Antônio agradeciam diariamente o fato da vida lhes ter sido boa.

Seus netos os visitavam sempre que podiam, seus filhos e as netas que moravam na mesma cidade estavam sempre por perto.

Juliana a terceira filha de Inês, cursava direito na faculdade da cidade. Estava sempre abarrotada de livros e estudava muito, já que tinha a intenção de se tornar juíza.

Gabriela, sempre agitada, cursava educação física, pois sempre gostou de estar em movimento.

Após três anos de curso, Gabriela passou a sentir algumas dores, o que atribuiu ao fato de os exercícios serem muito pesados, mas com o tempo se acostumaria, como era de costume e as dores cessariam.

Infelizmente não foi o que aconteceu. As dores de Gabriela passaram a ser mais fortes e então resolveu procurar ajuda profissional.

Na primeira consulta o médico lhe fez várias perguntas e pediu um hemograma completo.

Uma semana depois, Gabriela voltou sozinha ao consultório, já que não havia dito nada a ninguém sobre as dores, pois acreditava ser apenas muscular por conta dos exercícios.

A primeira pergunta que o médico fez quando ela entrou no consultório é se ela estava só.

Gabriela confirmou com a cabeça e o médico pediu que se sentasse, fazendo com que ela percebesse que era algo mais, do que dores musculares.

Ele lhe explicou que o que tinha era uma doença não contagiosa, mas que precisaria de um tratamento imediato, e gostaria de fazer mais exames e pediu para que ela voltasse dali duas semanas com algum familiar, para que pudessem conversar sobre o tratamento de acordo com o resultado dos exames.

Conforme dito, duas semanas após a primeira consulta, Gabriela voltou ao consultório com sua irmã Juliana.

As duas estavam ansiosas por saberem o resultado dos exames.

Ao entrarem no consultório, o médico pediu que se sentassem. Em seguida passou a conversar com as duas.

Disse-lhes que infelizmente os exames confirmaram a doença e que ela teria que continuar o tratamento. Futuramente ele veria como estariam suas condições para continuar ou modificar o tratamento.

— Futuramente? E quanto tempo tem esse futuramente? – perguntou Gabriela.

— Só o tempo dirá – respondeu o doutor – tudo dependerá da reação de seu organismo, mas infelizmente não posso dar-lhe grandes esperanças. Mas farei tudo o que estiver ao meu alcance.

As duas irmãs saíram arrasadas do consultório, sem saberem como contar ao restante da família.

Os primeiros a receberem a notícia foram os pais das meninas, que ficaram arrasados. Ligaram então aos tios e pediram para marcarem uma reunião na casa dos avós, para que todos estivessem presentes. E assim foi feito.

Na reunião Gabriela tomou a palavra:

— Infelizmente a reunião não é para notícia tão boa quanto eu gostaria. Quero deixar claro que amo cada um de vocês e que sempre foram importantes para mim, e como minha avozinha Inês me ensinou, nada melhor do que a fé para nos fortalecer e é nesta minha fé que confio. Fui diagnosticada com algo que não terei muita chance de briga, mas brigarei o máximo que puder. O que importa é estar junto dos meus, o tempo que puder ter, não importando quanto seja.

Ao terminar as palavras, houve um silêncio na sala. Os familiares não entendiam ao certo o que estava acontecendo. Aos poucos lágrimas passaram a molhar os rostos, soluços contidos eram ouvidos, até que Antônio se pronunciou no desespero:

— O que você está dizendo? Não tem remédio para isso? A medicina está tão avançada e não vão encontrar nada que te faça bem? O médico já disse que não tem cura? Tudo tem cura, tem que ter!

— Não é tão simples assim vovô – disse Gabriela acalmando-o – o médico fará o possível para que eu fique bem. Isso ele poderá fazer. Do restante, só poderemos aguardar.

Inês indo até Lurdes, lhe perguntou:

— Está bem mamãe?

— Estou – disse Lurdes levantando-se e se dirigindo até seu quarto, onde havia uma imagem de Santa Terezinha e colocando-se à frente da imagem fez seu pedido:

— Peço por minha neta, para que ela fique bem, que fique em paz. E para que eu saiba que ela ficará bem, peço receber uma rosa branca.

Os outros membros da família, os primos que não moravam na cidade, receberam a notícia por telefone através de seus pais.

A partir do dia do comunicado de Gabriela, Inês rezava todos os dias pedindo a mesma coisa: para que sua neta ficasse bem e em paz, e para saber que seu pedido seria atendido, receberia uma rosa branca.

Semanas se passaram após o anúncio e Gabriela se mantinha firme no tratamento.

Pediu afastamento do curso de educação física, já que os exercícios lhe davam dores.

A família continuava com as festas, reuniões e almoços, sendo que os que moravam mais longe, davam sempre um jeito de aparecerem.

Lurdes via sua neta sempre alegre e isso lhe dava esperança e acreditava que iria receber sua rosa branca em sinal de que a neta ficaria bem.

Seis meses após o resultado dos exames, a condição física de Gabriela piorou. As dores passaram a ser mais frequentes e piores. Os remédios pareciam não surtir mais efeito.

A família passou a se desesperar na impotência de não saberem mais o que fazer.

Seus avós a visitavam com frequência e Lurdes não entedia porque seu pedido não era atendido.

Ela que sempre foi devota de Santa Terezinha, queria ver a neta bem e em paz.

Continuava a rezar todos os dias, pedindo a rosa branca como sinal.

Gabriela que sempre foi uma pessoa otimista dizia à avó:

— Até aqui minha vida sempre foi linda e cheia de amor vovó. Isso sempre me fez muito bem e sempre me deu muita paz, nada fará com que mude em meu coração.

Oito meses após o resultado, Gabriela já não tinha mais forças para se movimentar. Ela que sempre foi a festeira da família, em constante movimento, participando de todos os eventos e festas familiares, já não se encontrava mais em condições de festejar.

Vovó Lurdes continuava a pedir pela neta, para que ela ficasse bem. Ela só não queria mais vê-la sofrendo.

Dez meses se passaram e Gabriela partiu para sua jornada final, deixando sua família com os corações em pedaços, mas sabendo que continuariam unidos.

Todos estavam reunidos para um adeus final. Nenhum primo ou tio faltou.

Seus avós Antônio e Lurdes também se encontravam ao lado de seu caixão.

A tristeza tomava conta de todos, embora todos soubessem que não era isso que Gabriela gostaria, logo ela que sempre foi tão alegre.

Em uma última despedida, Lurdes se debruça no caixão, beijando o rosto da neta que se fora, dizendo ao seu ouvido:

— Eu só queria que você ficasse bem. Te amo. Vá em paz.

Ao levantar-se, percebeu que estava com uma rosa branca na mão, e ninguém por perto que pudesse tê-la dado.

Naquele momento, Inês teve a certeza de que sua neta realmente estava bem e em paz.


 






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