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Foto do escritorLuiz Primati

REFLEXÕES Nº 83 — 24/09/2023


Imagem gerada com IA MidJourney


 

AUTOR AKIRA ORDINE


AKIRA ORDINE é um escritor, poeta e músico carioca. Desde cedo apaixonado pela literatura, utiliza a arte como espaço de luta e refúgio, colocando bastante de si em tudo o que escreve. Tem muitos livros, vários deles, verdadeiros amigos.

 

VIDA DE COISA


É interessante, mas lastimável, o fato de as pessoas frequentemente usarem os outros como coisas. Isso demonstra o grau de mercantilização que chegou a nossa sociedade, em que as relações interpessoais deixaram de ser marcadas pelo "quem", mas pelo "que". De pessoas, viramos objetos, que por vezes são tratados como descartáveis.


Dessarte, nota-se que a globalização permitiu o globo se interligar, mas também permitiu o ser humano escravizar a si. Todo o progresso que uns lutaram por anos era, na verdade, uma retórica besta para a espécie humana aumentar a escravidão de si própria, saindo de um ser natural para um ser artificial em muito pouco tempo.


Eu, em meu desconforto existencial mais latente, gosto de pensar que se chegamos num ponto em que os seres humanos usam-se mutualmente, tudo acaba (mas não deveria) sendo usado. E isso perpassa toda a nossa existência.


Em suma, é simples perceber que o mundo virou um grande mercado. Basta a você saber se quer ser vendedor ou mercadoria, e isso é deplorável...


 

AUTOR LUIZ PRIMATI


LUIZ PRIMATI (1962), é escritor de vários gêneros literários, no entanto, seu primeiro livro foi infantil: "REVOLUÇÃO NA MATA", publicado pela Amazon/2018. Depois escreveu romances, crônicas e contos. Hoje é editor na Valleti Books e seu último lançamento foi o livro "A MALDIÇÃO DO HOTEL PARADISIUM".

 

PRIMAVERA


Ah, primavera, o cenário da minha própria origem, estação que desabrocha amor em cada uma de suas pétalas exuberantes. Como não sentir o coração saltitar quando os beija-flores entoam a sua sinfonia de vida, melodia de um começo que sempre se renova?


Sob o sol que nos banha com seu calor afável, vejo os rostos sorridentes das pessoas e sinto como se cada raio fosse um abraço coletivo, um dourar da alma humana que, mesmo frágil, encontra razões para sorrir.


E os ipês-amarelos, ah, essas maravilhosas sentinelas da vida! Eles florescem com a promessa de que tudo que é belo tem seu momento ao sol, colorindo as alamedas como se estivessem pintadas à mão pelos deuses da estação. Quando suas flores caem, formam um tapete amarelo, macio e acolhedor, um leito para os sonhos de quem por ele passa.


Esta é a estação dos amantes, das promessas sussurradas ao pé do ouvido, dos beijos que imprimem eternidade em um instante. O aroma que flutua no ar é como um perfume embriagante, preenchendo nossos pulmões com a fragrância do possível, do novo, do eterno agora.


Eu, que nasci sob a balança de Libra, procuro o equilíbrio entre a paixão que me incendeia e a realidade que me aniquila. Meu coração é um campo de batalha, onde o amor e a melancolia lutam por território. Quando amo, é como um cometa cruzando o céu, brilhante mas efêmero. Quando caio, é como uma estrela que se apaga, deixando um buraco negro em seu lugar.


Meu sangue é feito da tinta dos poetas e meu destino é viver intensamente, como se cada página escrita fosse uma promessa de infinito. Minha caneta, meu farol; minhas palavras, os tijolos com que construo castelos no ar.


Esta primavera, que passa em um piscar de olhos, é para mim um oceano de eternidades, um horizonte que se estende além do olhar. E agora, eu te pergunto: qual é a estação que acende a chama da tua alma, que te faz sentir, como eu, que a vida é uma canção cuja melodia é composta de incontáveis primaveras?


 

AUTORA ARLÉTE CREAZZO


ARLÉTE CREAZZO (1965), nasceu e cresceu em Jundiaí, interior de São Paulo, onde reside até hoje. Formou-se no antigo Magistério, tornando-se professora primária. Sempre participou de eventos ligados à arte. Na década de 80 fez parte do grupo TER – Teatro Estudantil Rosa, por 5 anos. Também na década de 80, participou do coral Som e Arte por 4 anos. Sempre gostou de escrever, limitando-se às redações escolares na época estudantil. No professorado, costumava escrever os textos de quase todos, para o jornal da escola. Divide seu tempo entre ser mãe, esposa, avó, a empresa de móveis onde trabalha com o marido, o curso de teatro da Práxis - Religarte, e a paixão pela escrita. Gosta de escrever poemas também, mas crônicas têm sido sua atividade principal, onde são publicadas todo domingo, no grupo “Você é o que Escreve”. Escrever sempre foi um hobby, mas tem o sonho de publicar um livro, adulto ou infantil.

 

COMEÇAR DE NOVO


Muitas pessoas se assustam com o termo começar de novo, sem se darem conta de que começamos diversas coisas por diversas vezes.


Começamos um novo dia sempre ao abrirmos os olhos e percebermos que ainda estamos vivos.


Começamos uma nova refeição a cada hora que sentimentos fome.


Temos o começo de um novo tratamento quando adoecemos.


Iniciamos todos os dias a jornada para o trabalho, escola ou compromissos que tenhamos.


Começamos a ler um novo livro, assistir uma nova novela ou iniciamos uma nova série.


Não percebemos que a vida é um eterno recomeço.


É preciso começar sempre, para que nossas mentes não se acomodem.


Para chegar ao trabalho, preciso iniciar a caminhada.


Para o curso novo, é preciso começar novamente a estudar.


Reinicio minhas refeições todos os dias e ao terminá-las começo novamente a lavar a louça.

Serviço de casa não tem fim, por isso é importante começar de novo todos os dias.


Até mesmo os sentimentos podem ser recomeçados. Afinal, se algo der errado em uma relação, seja afetiva ou familiar, basta darmos um start no coração, para que ele se reinicie.


Não é preciso pensarmos na vida sempre como um recomeço, pois daria a impressão de que nada bom foi feito anteriormente, mas é necessário saber quando começar de novo.


 

AUTOR LUIZ PRIMATI


LUIZ PRIMATI (1962), é escritor de vários gêneros literários, no entanto, seu primeiro livro foi infantil: "REVOLUÇÃO NA MATA", publicado pela Amazon/2018. Depois escreveu romances, crônicas e contos. Hoje é editor na Valleti Books e seu último lançamento foi o livro "A MALDIÇÃO DO HOTEL PARADISIUM".

 

AMAR É...


Você já experimentou a dor excruciante que só o amor pode trazer? Se você hesitou, então ainda não se aprofundou na abismal experiência que chamamos de amor. É aqui que a paixão e o amor divergem, numa encruzilhada de emoções. Mas vamos ser honestos: quantos de nós já não sofreram na busca de um amor eterno?


Por que esse dilema cruel, se o amor é a quintessência do bem-estar? Sofrer é a medalha não solicitada que recebemos quando o amor verdadeiro nos invade, nos desorienta e nos faz estender a mão para estranhos e sussurrar para borboletas. Já se viu nesse espelho emotivo?


Imagine o primeiro encontro com o objeto do seu desejo insaciável. Abraços que esticam o tempo, beijos que roubam não apenas saliva, mas fragmentos da sua alma. Um toque que faz cada fibra do seu ser se levantar em um aplauso silencioso.


O amor é a gravidade que te puxa para uma noite estrelada, deitado ao lado da pessoa que torna todo o resto do universo irrelevante. É aqui que poemas sem sentido florescem e o olhar dela se cristaliza no seu, como se fosse possível congelar aquele momento para sempre.


A ausência dela? Um vazio devorador. Sonhar com o perfume que emanava do seu ser é como flutuar em um vácuo sem fim. Seu toque torna-se um fósforo que não pode acender, e sua voz, um eco perdido em um coro silencioso de saudade.


Amar é uma tapeçaria complexa de tudo isso e mais, mas tecida com fios de sofrimento. Seja pelo vazio da separação ou pela pontada aguda da saudade, o amor demanda seu preço. Então entregue-se: ame, sofra, desabe, clame ao céu, seja o maestro da sua própria ópera de emoções.


Você já murmurou as palavras 'eu te amo' hoje? Disse-as sabendo que são tanto um feitiço quanto uma maldição?


P.S. Ouça nosso podcast onde esse texto é declamado por Simone Gonçalves.


 

AUTORA BETÂNIA PEREIRA


Betânia Pereira, historiadora / enfermeira, colunista na Revista The Bard. Participou de várias antologias poéticas. Escreve desde que aprendeu a escrever. Escreve poesias, prosas, textos de autoajuda, reflexões. Escreve sobre todas as pessoas que rondam as vidas que viveu e as que ainda viverá.

 

INTENSIDADE NÃO DÓI


Intenso não sofre mais que dois dias. Será mesmo assim? Mas o que é uma pessoa intensa? Uma pessoa emocionalmente intensa é aquela que sente tão forte e profundamente que não consegue segurá-la ou escondê-la, e nem tentam esconder. E algumas vezes esses sentimentos intensos podem levá-los a se sentirem fora de controle ou completamente sobrecarregados por suas emoções.


Mas no senso comum, temos visões equivocadas a respeito de pessoas intensas, criamos fantasiosamente em seu entorno uma série de curiosidades e julgamentos desnecessários. Classificando e categorizando os intensos como insanos, desequilibrados, carentes etc. quem é intenso em alguns momentos paga caro por ser, por viver a maioria das situações da vida com uma energia diferenciada, calorosa. Nunca são meio-termo, externalizam com facilidade alegria e dor: os momentos de alegria serão de júbilo extremo, e os de tristeza serão extremos, mas os dois não são prolongados. Podem sofrer durante dias e são suscetíveis a picos depressivos, mas também podem não sofrer mais que dois dias, não se permitirem se isolar, chorar. Há dores, mas a vontade de caminhar é maior. Por sentirem com profundidade, não têm medo ou vergonha de expressar suas emoções. Vivem e não fogem de viver o que é necessário e adequado.


Intensos não mentem para agrada, não conseguem inventar subterfúgios para meias verdades. São transparente nas emoções, são apaixonantes e demonstram carinho facilmente. A vida parece fugir pelos dedos e esse medo ajuda a expressar sempre a intensidade. Cada ser intenso tem características diferenciadas um do outro, e aquele que não é, sente medo da intensidade dos que são. Essa intensidade é inata.


Como intensa que sou, confesso que conviver com essa intensidade num mundo de rasos, dói. Dói porque amamos ao extremo e não normalizamos traições, infidelidades. Dói porque de fato, ser intenso exige muito do cérebro e dos hormônios responsáveis pelas emoções. Mas sei o quanto o intenso é gigante. Rio gigante que não se contém e deságuam nas margens, derrubam barragens e jogam nos mares e oceanos. Intenso é: vida correndo e chegando, sangue fluindo, coração em sístole e diástole. Movimentos…


 

AUTORA LUCÉLIA SANTOS


Lucélia Santos, natural de Itabuna-Bahia, escritora, poetisa, cronista e contista e antologista. Escreve desde os 13 anos. É autora do livro "O Amor vai te abraçar" e coautora em diversas coletâneas poéticas. Seu ponto forte na escrita é falar de amor e escreve poemas e minicontos infantis.

 

GRITO


Há feridas dentro de mim, invisíveis mas vivas, que sangram em silêncio. Elas tingem a minha alma de uma cor cinzenta, um vazio que ecoa como um abismo sem fim. Sinto-me aprisionada por minha própria existência, como uma linha frágil, prestes a romper, suspensa sobre um abismo. Observo aqueles que celebram a vida, e me pergunto: "O que eles têm que eu não tenho?"


Minha autoestima é um fio tênue, quase rompido, e o mundo parece ter se esquecido de que eu também sou feita de carne e osso. Eu não me encaixo nos moldes sociais, nas métricas de beleza e sucesso que nos são impostas desde o berço. Meu corpo é grande, mas o meu coração também é. E nele, apesar de tudo, ainda ressoa uma canção silenciosa de amor.


Vivo arrastando-me pelos dias, como quem carrega o peso do mundo nos ombros. Noite após noite, meus pensamentos são uma maratona sem fim, correndo freneticamente em busca de uma resposta, de um motivo para continuar. Ainda assim, nunca desisto. Agarro-me à vida como quem se segura à última corda de um precipício.


É nesses momentos, quando o silêncio ensurdecedor toma conta de mim, que pego minha caneta e deixo que ela deslize pelo papel, como um grito mudo. Escrevo não apenas com tinta, mas com a essência do meu ser, com toda a força e vulnerabilidade que habitam dentro de mim. A caneta é a extensão da minha voz, e o papel, o único ouvinte de minha alma.


Nesse instante, faço do meu grito um poema, uma sinfonia silenciosa que ecoa nas páginas em branco. E, mesmo em minha solidão, em meu isolamento autoimposto, eu sinto como se alguém, em algum lugar, pudesse ouvir a minha dor.

 

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1 Comment


Stella Gaspar
Stella Gaspar
Sep 24, 2023

Encantada com a imagem desse caderno n.º 83. Textos e sentimentos desvendando palavras e significados. Desejo um abençoado domingo para todos vocês, é para mim, uma doce leitura poder ler, cada palavra aqui escrita!!! 😍🌹

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