Pedro Paulo é surpreendido pela partida da sogra de maneira inesperada. Mas agora ele tem a casa toda para ele e Paçoca. Estão livres!
Leia, critiquem, comentem!
Luiz Primati
TODAS AS FÊMEAS QUE ME DOMINAM
por Luiz Primati
IG: @luizprimati
ABANDONO DE LAR
Dona Helvira é uma fofa. Nem foi preciso muito tempo para ela deixar eu fazer as refeições à mesa junto dela. Já estava me conformando em comer no quartinho da empregada. Paçoca também agradeceu.
Não sei como Maria Malvina está se virando sem mim e Paçoca. Não adianta ela negar. Éramos a luz daquele apartamento. Ela deve estar sofrendo, sozinha, sem nossa companhia, sem amigos.
Acordei animado e Paçoca também. Hoje faríamos um reconhecimento no bloco adjacente. Adoro dizer essa palavra: adjacente. É bonita. Bem, quando chegamos à sala, Dona Helvira estava ao telefone.
— … está bem, querida, eu vou! — disse Dona Helvira ao desligar o celular.
— Era a Maria Malvina? — perguntei sem jeito.
— Sim! Ela mesma. Por quê? — falou Dona Helvira me olhando sobre os ombros.
— Ela está sofrendo de solidão? Pediu para eu voltar? — falei já sabendo a resposta.
— Sim! Ela quer companhia… — despejou Dona Helvira numa só vez.
— Que bom! Já estou fazendo minhas malas então… — voltei-me em direção ao quarto. Já era tempo de mim e Paçoca voltarmos ao lar.
— Pedro Paulo, você não entendeu. Ela quer companhia, mas não é a sua — disse sem pena de mim.
— Não? Como assim? — coloquei as duas mãos na cintura e apoiei o peso de meu corpo em apenas uma das pernas.
— Ué! Não querendo. Ela pediu para que eu fique com ela — disse isso enquanto olhava para a ponta das unhas a descascar.
— Não esperava por isso — disse para Dona Helvira, bem chateado. Paçoca latiu em protesto.
— É preciso saber o momento de voltar, de saber que é chegada a hora — disse Dona Helvira e me animei.
— Está me dizendo que devo voltar para Maria Malvina? — empolguei-me.
— Pedro Paulo, você está maluco? Falava de minhas unhas. Preciso voltar à manicure — lascou essas palavras em minha direção e foi para o quarto.
Nesse momento me senti vencido. Meus olhos fitaram o chão. Fiquei ali cabisbaixo, Paçoca começou a latir sem parar em sinal de protesto. Era chegada a hora. O chão estava bem sujo. Precisava de uma nova faxina.
* * *
Dona Elvira fez as malas e foi morar com Maria Malvina. O apartamento ficou livre para mim e Paçoca. Era a nossa vez de nos divertir.
— Danem-se as faxinas! — gritei e Paçoca latiu.
— Danem-se as retiradas de lixo diária — gritei e Paçoca latiu.
— Danem-se as trocas de água e ração da cachorra 4 vezes ao dia — gritei e Paçoca tentou morder meu pé.
Depois de uma semana de revolta com tudo e todos e revolução total, o apartamento estava um nojo. Eu estava sem tomar banho há 3 dias. Paçoca não ia a seu banho já fazia 2 semanas. Era preciso tomar pulso da situação. Não dava mais para ficarmos vivendo dessa maneira.
— Marinalva? Aqui é o Pedro Paulo… tudo bem? — falei em tom de amizade.
— Oi seu Pedro Paulo. Aqui em casa nós não estamos muito bem não. Meu marido está desempregado, a minha filha…
— Marinalva, as coisas são assim mesmo. Preciso de seus préstimos — cortei logo as ladainhas de Marinalva. Se deixasse ela ficaria muitas horas lamentando-se.
— Préstimos? Não sei fazer isso não… — disse Marinalva sem jeito.
— Préstimo, serviços, faxina — falei.
— Ah! Por que não disse logo? Para quando é a faxina? Semana que vem? — falou Marinalva confiante.
— Pode ser amanhã? — torci para ela aceitar.
— Não sei… — fingiu desinteresse.
— Pago o dobro! — blefei.
— Topo! — aceitou Marinalva.
* * *
Na sala, logo pela manhã, Marinalva estava de braços cruzados olhando a situação. Eu e Paçoca ficamos ao seu lado.
— Que sujeira, seu Pedro Paulo. Como foi que isso aconteceu? Parece até uma república de estudante… — disse com pena no olhar.
— Marinalva, o que ocorreu ou deixou de ocorrer por aqui não te interessa. Temos que resolver a situação. Paçoca latiu concordando comigo.
— Desculpe-me… não está mais aqui quem falou… Então vamos começar? Esse cachorro precisa de um bom banho. Ligue para o petshop vir buscar a Pacoça.
— PAÇOCA! — disse alto.
— Isso! Ligue para eles enquanto analiso a situação — disse Marinalva.
Liguei para o petshop e desci até a portaria. Paçoca não iria incomodar Marinalva enquanto a faxina era feita.
— Pronto seu Pedro Paulo? — disse Marinalva em tom motivacional.
— Sempre!
— Comecemos por esse monte de embalagens de comida. Pegue os sacos de lixo e junte todo esse lixo — sugeriu Marinalva.
— Deixe comigo! — fui até a lavanderia e voltei com 2 sacos de 100 litros. Recolhi as embalagens de comida, garrafas de cerveja, latas de refrigerantes. Depois peguei a vassoura e juntei a sujeira mais grossa. Para o pó, Marinalva sugeriu o aspirador. Logo eu aspirei a sala, depois os quartos. Marinalva ia me orientando. Quando dei por mim, 3 horas já haviam se passado e Marinalva estava no sofá, recostada nas almofadas, assistindo TV e comendo meu amendoim. Que sacanagem! Chamei Marinalva para trabalhar.
— Marinalva! — gritei.
Ela parou de mastigar o amendoim e olhou-me com cara de assustada.
— Está comendo o meu amendoim? — bradei.
— Desculpe-me seu Pedro Paulo — guardou o saco na cozinha e voltou para o sofá.
— E a faxina? Como é que fica? — falei bravo.
— Deixe-me ver… — Marinalva olhou todos os cantos. — Está ótima. Continue assim seu Pedro Paulo.
— Como assim? Estou te pagando para limpar e no final das contas sou eu que estou fazendo tudo — acabei com ela.
— O Sr. tem razão. Preciso passar o pano no apartamento todo. Pode pegar o balde com o produto e os panos de chão? Por favor…
Com aquela voz doce, não consegui negar.
— Pronto Marinalva! Aqui está — mostrei o balde com o limpa-piso e os panos de chão.
— Obrigada! Vou começar.
Marinalva pegou um dos panos e embebeu no líquido no balde. Colocou o pano no chão e começou a movimentá-lo pelo chão com o rodo. Foi aí que Marinalva começou com um ataque de tosse.
— Cof, cof, cof! Seu Pedro Paulo! Que aroma é esse do limpa-pisos? — Marinalva tossia tanto que estava até ficando vermelha.
— Lavanda…
— Seu Pedro… cof cof cof, o Sr. sabe… cof cof cof, que não posso com esse cheiro…
— Eu sei? Sei nada — falei bravo.
— Sempre disse para a sua esposa que era para ela comprar com outro cheiro. Esse eu tenho alergia… cof cof cof.
Tratei de me redimir. Peguei um copo de água para Marinalva. Levei-a até o sofá e pedi para ela ficar sentada até que se recuperar. Enquanto ela tomou sua água, terminei de passar o pano em todo o apartamento.
Enfim, o dia já tinha passado e eu estava com o corpo todo dolorido. O interfone tocou…
— Deixe que eu atendo — gritou Marinalva.
Quem seria? Pensei…
— Seu Pedro Paulo, o petshop espera o Sr. lá na portaria. Paçoca chegou.
— Já estou indo — gritei da lavanderia.
Paçoca voltou limpinha e animada. Correu pelo apartamento feliz. Cheirava todos os cantos detectando a limpeza feita. Gosto de ver Paçoca feliz. Assim ela não morde os dedos de meus pés.
— Sr. Pedro Paulo, acho que já vou. Parece que o apartamento ficou limpinho. Meus parabéns… — falou Marinalva.
— Obrigado…
— Acho que já vou. O Sr. pode pagar o meu dia? — disse Marinalva já com a sua bolsa nos ombros.
— Então são 120 pela faxina, certo? — disse enquanto abria a carteira.
— O Sr. disse que me pagaria o dobro, lembra? — falou Marinalva cruzando os braços e franzindo as sobrancelhas.
— Sabe que foi no sentido figurado, não sabe? — sorri-lhe que apertou mais ainda as sobrancelhas.
— Olha aqui Sr. Pedro Paulo... eu larguei um cliente granfino hoje, só para atender o Sr., pois ele ia me pagar bem mais que o dobro. Mas eu aceito 240 como combinamos.
Eu a olhei chocado. Mas eu havia mesmo dito isso. Melhor pagar logo.
— Está aqui os 240…
— Ah! Me dê mais 20, pois hoje o Sr. não pediu a minha marmita — disse com a maior cara-de-pau.
— Marmita? Você comeu um saco de amendoim… — revoltei-me.
— Amendoim não é refeição. O Sr. sabe muito bem disso.
Paguei lo os 260 para não haver mais confusão. Ela se foi e cai no sofá, morto. Paçoca saltou ao meu lado e ficou aguardando um cafuné.
Enquanto relembrava tudo que ocorreu hoje, fiquei com a sensação de que Marinalva me levou no bico! Que desaforada!
AUTOR
Luiz Primati
Marilandra, levou no papo novamente!!!! rsrsrsrsrsrsrsr
😅Não adianta, é ler seu texto e não paro de rir.. tudo perfeito. O cof...cof...cof... mão na cintura incrédulo porque não ia voltar para o Lar, e a paçoca acompanhando todas as caras e bocas. Coitado do Pedro Paulo, sempre sobra para ele! Luiz, é tudo tão bom de ler que eu fiquei com vontade de dar de presente ao Pedro Paulo um saco de amendoim e deixar Malvina de castigo sem ver TV por um dia!!! Aplausos! 😂😍